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O mistério do massacre mórmon: Brigham Young ordenou o massacre de 1857?

Da redação do New York Times 
Tradução: Emerson de Oliveira


Em 11 de setembro de 1857, um grupo de pioneiros da Califórnia que acamparam no sul de Utah foram assassinados por uma milícia mórmon e seus aliados índios. O massacre durou menos de cinco minutos, mas quando acabou, haviam sido mortos 120 homens, mulheres e crianças, apunhalados ou fuzilados à queima-roupa. Seus corpos, despojados de roupas e jóias, foram deixados no campo para serem comidos por lobos e urubus. 

Foi uma das piores atrocidades civis americanas do séc. XIX. "Os Estados Unidos soaram com seus horrores", disse Mark Twain, anos depois. Mas apesar de dois julgamentos, uma execução e numerosas investigações oficiais, o incidente - conhecido como o massacre de Mountain Meadows - permanece envolto em mistério e rumor. 

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias - a igreja Mórmon - tem constantemente negado responsabilidade, culpando os índios e certos membros da igreja pelo o crime. Mas agora, dois autores que estudaram a massacre dizem que o profeta Brigham Young, líder da igreja que construiu um reino mórmon em um oásis no deserto das Montanhas Rochosas, planejou habilmente a matança e depois conspirou para encobrir sua participação. 

"Ele fez isto", diz Will Bagley, colunista de história do The Salt Lake Tribune cujo livro Blood of the Prophets: Brigham Young and the Massacre at Mountain Meadows (Sangue dos Profetas: Brigham Young e o Massacre de Mountain Meadows - University of Oklahoma Press), foi um best-seller em Utah desde que apareceu em julho. "A evidência é clara". 

Sally Denton, uma repórter investigativa de Santa Fe, N.M., de quem livro American Massacre: The Tragedy at Mountain Meadows (Massacre Americano: A Tragédia de Mountain Meadows) será publicado por Knopf no verão que vem, também diz que Young foi o responsável pelo crime. "Ele era um ditador absoluto", ela disse. "Nada acontecia no lugar que não fosse pelas ordens dele". 

Esta conclusão é discutida por três historiadores da igreja Mórmon que prometem que sua própria história da massacre a ser publicado pela Oxford University Press em 2004, irá tirar a culpa de Young. "Está claro para nós que este não foi um projeto ordenado de cima", disse  Glen Leonard, diretor do Museu de História e Arte da Igreja Mórmon em Salt Lake City e um dos co-autores daquele livro. "Foi planejado localmente e levado a cabo". O cenário atual do debate pode ser o mais obscuro sobre o episódio que, além das investigações, inspirou pelo menos cinco romances nos últimos anos. O massacre não só pe conhecido por seus horrores mas também por seu grande grau de deslealdade que aconteceu momentos antes. Depois de resistirem numa batalha com armas que durou quatro dias, os pioneiros aceitaram uma trégua que se mostrou para ser um jogo mortal. Os atacantes prometeram um salvo-conduto da área em troca de que os pioneiros dessem suas armas, mas depois que os pioneiros entregaram as armas, foram imeditamente mortos. Dezessete crianças, todas com menos de 7 anos, foram poupadas. Levadas por famílias locais - incluindo de homens que tinham participado no ataque - as crianças foram depois devolvidas a parentes, e assim puderam testemunhas sobre o fatidico massacre. 

Os investigadores federais suspeitaram que Brigham Young tinha alguma coisa a ver com o crime, mas não conseguiram muita evidência para o condenar. Em um relatório de 1858 para o comissário índio federal, Young culpou os índios locais e, por implicação, o governo norte-americano, cuja "política fatal" ele escreveu, "trata os índios como lobos, ou outros animais ferozes". 

Então, em 1870, Young excomungou John D. Lee, um membro mórmon e líder da milícia no sul de Utah, por causa da participação na massacre. Lee foi julgado duas vezes por ter participado do assassinato (foi condenado na segunda vez) e executado em 1877. Mas ainda continuaram os rumores de que a igreja tinha participado. Muitos mórmons - particularmente no sul de Utah - deixaram a igreja depois do incidente. 

Uma placa no local de massacre, erguida pela igreja Mórmon em 1990, cuidadosamente evitou mostrar qualquer culpa e colocou uma frase vaga: "uma companhia de mais de 120 emigrantes do Arkansas que foi atacada enquanto se dirigia para a Califórnia". 

Os emigrantes, um grupo de prósperos fazendeiros do Arkansas, conhecidos como o partido de Fancher, por causa do nome de seu líder, Alexander Fancher, não poderia ter escolhido uma época pior para migrarem. O oeste atraía por sua promessa de abundância e bom clima  - algo bom para os gados - o partido deixou Arkansas na primavera de 1857, na mesma época que o Território de Utah e os Estados Unidos estavam na beira de um conflito armado. Nomeado governador pelo presidente Millard Fillmore sete anos antes, Young transformou Utah num estado teocrático mórmon, que não respeitava as leis federais nem os índios e que trouxe grande descontentamento dos políticos da costa leste por particarem poligamia (Young teve pelo menos 20 esposas - alguns cálculos dizem 56 - e até 57 filhos.) 

Desde 1857 os mórmons estavam armazenando armas, e todos menos um dos juizes federais e oficiais que admistravam assuntos índios no território tinham fugido para manter sua segurança. Em resposta, o presidente James Buchanan nomeou um novo governador para substituir Young e lhe enviou para o oeste junto com 2.000 soldados norte-americanos. Young retaliou declarando lei marcial. O período, que durou até o Exército entrar em Salt Lake City e instalar o novo governador em junho de 1858, é conhecido como a Guerra de Utah. 

Como esta atmosfera hostil levou ao assassinato em um vale a 480 km ao sul de Salt Lake City, porém, é muito debatido. 

Entretanto Bagley e Denton terem organizado muitos dados, seu caso contra Brigham continua circunstancial. 

Segundo com a versão tradicionalmente contada pelos estudiosos mórmons - por exemplo, em uma biografia de Young de 1985 - o partido de Fancher provocou raiva por provocarem os colonos mórmons no sul de Utah. Alguns colonos, diz a história, acreditaram que os pioneiros estavam envolvidos no assassinato de Parley Pratt, um popular apóstolo mórmon, no Arkansas, um ano antes. Outros acreditaram que o grupo era um grupo do Exército. 

Para piorar para o partido de Francher, o livro diz que eles enveneram os poços e gados dos índios, enfurencendo-os. Numa confissão feita antes de ser executado, Lee, a única pessoa condenada pelo crime, culpou os índios paiutes. Os índios iniciaram a agressão, ele escreveu, e os colonos mórmons só se juntaram a eles temendo represálias. Bagley e Denton dizem que estas explicações são falsas por tentarem tirar a culpa da igreja. 

Ainda que obviamente culpado de assassinato, Lee foi o bode expiatório do crime, não instigator, que os autores dizem e os índios tiveram pouco a ver com isto. "A idéia que este foi uma massacre índio é absurdo", disse Denton e cita uma análise forense de 1999 que achou que mostrou que muitas das vítimas tinham morrido de feridas de tiro à cabeça. Não há nenhuma evidência que os índios tinham as armas para uma morte desta magnitude", ela disse. 

Ambos os autores citam um sobrevivente de 5 anos que contou para um repórter dois anos depois do evento: "meu pai foi morto por índios; quando eles lavaram seus rosto, eles eram homens brancos". (Embora algum paiutes estavam envolvidos, disse Denton, o massacre se separou a tribo: percebendo que seriam culpados pelo crime, os índios dispersaram.) 

Denton, que é descendente de colonos mórmons, disse que as matanças foram principalmente inspiradas por cobiça. Para os pobres colonos mórmons do sul de Utah, o partido de Fancher, com sua grande provisão de dinheiro vivo, armas e centenas de valiosos cavalos e gados, era simplesmente irresistível. "Foi a caravana mais rica que atravessou o país", ela disse. "Eles tivnham 1.000 cabeça de bois". Crianças que sobreviveram ao massacre depois disseram que viram os colonos locais usando as roupas e jóias de seus pais.  

Bagley, que diz ele é um "Jack Mórmon", diz que o ataque teve menos a ver com cobiça que ideologia. Segundo a doutrina mórmon, ele mostra, assassinar em defesa da fé poderia ser considerado justo. Neste caso, ee diz, Young viu a matança como um ato justo, que vingaria o assassinato de Pratt no Arkansas, o que serviria como um aviso ao governo norte-americano sobre os riscos de invadir o estado mórmon. 

"O partido de Arkansas já foi condenado desde o momento em que os mórmons ficaram sabendo da morte de Pratt e a chegada do Exército americano", ele escreve em seu livro. "Os emigrantes foram vítimas da decisão de Brigham Young de mostrar seu poder em controlar os índios e as rotas de viagem por seu estado". 

Bagley cita o diário feita pelo cunhado de Young, quer era intérprete dos índos
, Dimick Huntington, depois de uma reunião entre o líder mórmon e chefes paiutes em 1 de setembro  de 1857. 

A citação do diário parece se referir ao partido de Fancher e sugere que Young encorajou os índios para roubar o gado do grupo e lutar contra eles. Mas nenhum autor descobriu prova escrita que Young tinha ordenado a massacre. 

Isto é porque, dizem os historiadores da igreja, essa ordem nunca foi dada. Richard Turley Jr., diretor administrativo da família e departamento da história da igreja Mórmon, disse ele e seus co-autores descobriram um documento nos arquvis da igreja provando que Lee agiu por sua própria iniciativa. Ele disse que o arquivo incluia as notas de um historiador mórmon que, a pedido dos líderes de igreja, fez uma investigação do massacre em 1892. 

"Há declarações muito sinceras por parte dos membros para um oficial da igreja sob acordo de confidência", disse Turley, adicionando que o arquivo, junto com outras fontes que ele e seus co-autores estavam usando, seriam levados à público depois que o livro fosse publicado (Bagley e Denton disseram que eles não tinham visto o arquivo mas estavam céticos de que alteraria suas conclusões.) 

Mesmo se a cumplicidade de Brigham Young fosse ou não um problema, Turley diz que ainda há muitas perguntas sobre o massacre: "É um evento que parece muito incongruente com as pessoas que o fizeram". 

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