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Pode-se crer no Antigo Testamento?

UMA cidade antiga está sendo sitiada. Seus atacantes haviam atravessado em massa o rio Jordão e estavam agora acampados diante das altas muralhas da cidade. Mas, que estranha tática de guerra! Todos os dias, durante seis dias, o exército invasor marchara ao redor da cidade em silêncio, rompido apenas por um acompanhante grupo de sacerdotes que tocara buzinas. Agora, no sétimo dia, o exército marcha silencioso sete vezes ao redor da cidade. De repente, os sacerdotes tocam as buzinas com toda a força. O exército rompe o silêncio com um forte grito de guerra, e as altas muralhas da cidade desmoronam numa nuvem de poeira, deixando a cidade indefesa. — Josué 6:1-21.

   É assim que o livro de Josué, o sexto do Antigo Testamento (doravante AT), descreve a queda de Jericó, que ocorreu há quase 3.500 anos. Mas, será que aconteceu realmente? Muitos altos críticos responderiam confiantemente que não. Eles afirmam que o livro de Josué, junto com os cinco livros precedentes da Bíblia, é composto de lendas escritas muitos séculos depois da ocorrência dos alegados eventos. Também muitos arqueólogos diriam o mesmo. Segundo eles, quando os israelitas entraram na terra de Canaã, Jericó talvez nem existisse.

   Estas são acusações sérias. Ao passo que ler a Bíblia, notará que os ensinos dela se relacionam solidamente com a história. Deus lida com homens, mulheres, famílias e nações reais, e suas ordens são dadas a um povo histórico. Os eruditos modernos que lançam dúvidas sobre a historicidade da Bíblia também lançam dúvidas sobre a importância e a fidedignidade da sua mensagem. Se a Bíblia realmente é a Palavra de Deus, então a sua história tem de ser fidedigna, e não conter meras lendas e mitos. Será que esses críticos têm alguma base para desafiar a veracidade histórica dela?

A Alta Crítica Quão Confiável É?

  A alta crítica da Bíblia começou a sério durante os séculos 18 e 19. Na última metade do século 19, o crítico da Bíblia alemão Julius Wellhausen popularizou a teoria de que os primeiros seis livros da Bíblia, incluindo Josué, foram escritos no quinto século a.C. — cerca de mil anos depois dos acontecimentos descritos. No entanto, ele disse que contêm matéria escrita anteriormente.1 Esta teoria foi apresentada na 11.a edição da Enciclopédia Britânica, publicada em 1911, que explicava: "Gênesis é uma obra pós-exílica, composta de fonte sacerdotal pós-exílica (P) e de anteriores fontes não-sacerdotais, notadamente diferentes de P em linguagem, estilo e ponto de vista religioso."

  Para Wellhausen e seus seguidores, toda a história registrada na primeira parte do AT era, "não história literal, mas tradições populares do passado". Os relatos anteriores eram considerados apenas um reflexo da história posterior de Israel. Por exemplo, declarou-se que a inimizade entre Jacó e Esaú realmente não aconteceu, mas refletia a inimizade entre as nações de Israel e de Edom em tempos posteriores.

  Em harmonia com isso, esses críticos achavam que Moisés nunca recebeu ordem para fazer a arca do pacto, e que o tabernáculo, centro da adoração israelita no ermo, nunca existiu. Eles acreditavam também que a autoridade do sacerdócio arônico só foi plenamente estabelecida poucos anos antes da destruição de Jerusalém pelos babilônios, a qual os críticos acreditavam ter acontecido no começo do sexto século a.C..

  Que "provas" apresentaram para essas idéias? Os altos críticos afirmam que conseguem dividir o texto dos primeiros livros da Bíblia em diversos documentos diferentes. Um princípio básico que eles usam é presumir que, falando-se de modo geral, todo versículo da Bíblia que usa a palavra hebraica para Deus (’Elo·hím) sozinha foi escrito por um escritor, ao passo que todo versículo que se refere a Deus pelo nome dele, Iahweh, deve ter sido escrito por outro — como se um mesmo escritor não pudesse usar ambos os termos.

  De modo similar, sempre que um evento se encontra registrado mais de uma vez num livro, toma-se isso como prova de que mais de um escritor o produziu, embora a antiga literatura semítica apresente outros exemplos similares de repetição. Além disso, presume-se que toda mudança de estilo significa uma mudança de escritor. No entanto, até mesmo escritores, nas línguas atuais, freqüentemente escrevem em estilos diferentes, em estágios diferentes de sua carreira, ou ao tratarem de matéria diferente.

 Existe realmente alguma prova que substancie essas teorias? Nenhuma. Certo comentador escreveu: "A crítica, mesmo no melhor dos casos, é especulativa e tentativa, algo sempre sujeito a ser modificado ou mostrado errado, e que tem de ser substituído por outra coisa. É um exercício intelectual, sujeito a todas as dúvidas e palpites que são inseparáveis de tais exercícios." A alta crítica bíblica, em especial, é "especulativa e tentativa" em extremo.

  Gleason L. Archer, Jr., mostra outra falha no raciocínio da alta crítica. O problema, segundo ele, é que "a escola de Wellhausen começou com a pura suposição (que praticamente não se incomodaram de demonstrar) que a religião de Israel era de mera origem humana, como qualquer outra, e que devia ser explicada como mero produto da evolução". Em outras palavras, Wellhausen e seus seguidores começaram com a suposição de que a Bíblia era apenas a palavra de homem, e seus argumentos partiram deste ponto.

  Lá em 1909, The Jewish Encyclopedia (A Enciclopédia Judaica) mencionou mais duas fraquezas da teoria de Wellhausen: "Os argumentos com os quais Wellhausen cativou quase que inteiramente todo o grupo de críticos contemporâneos da Bíblia baseiam-se em duas suposições: primeiro, que o rito fica mais apurado com o desenvolvimento da religião; segundo, que as fontes mais antigas necessariamente tratam dos estágios mais primitivos do desenvolvimento ritual. A primeira suposição é contrária à evidência das culturas primitivas, e a última não encontra nenhum apoio na evidência de códigos rituais, tais como os da Índia."

  Existe um modo de testar a alta crítica, para ver se suas teorias são corretas, ou não? A Enciclopédia Judaica prossegue: "Os conceitos de Wellhausen baseiam-se quase que exclusivamente numa análise literal, e precisam ser suplementados por um exame feito do ponto de vista da arqueologia institucional." Será que a arqueologia, com o passar dos anos, tendeu a confirmar as teorias de Wellhausen? The New Encyclopædia Britannica (A Nova Enciclopédia Britânica) responde: "A crítica arqueológica tende a substanciar a fidedignidade dos pormenores históricos, típicos, mesmo dos períodos mais antigos [da história bíblica] e a desconsiderar a teoria de que os relatos do Pentateuco [os registros históricos nos mais antigos livros da Bíblia] sejam meros reflexos de um período muito posterior."

  Em vista da fraqueza da alta crítica, por que é ela hoje tão popular entre os intelectuais? Porque lhes diz coisas que querem ouvir. Certo erudito do século 19 explicou: "Eu, pessoalmente, aceito mais este livro de Wellhausen do que quase qualquer outro; porque parece-me que o problema premente da história do Antigo Testamento por fim é solucionado dum modo consoante com o princípio da evolução humana, que me vejo forçado a aplicar à história de todas as religiões." Evidentemente, a alta crítica concordava com os preconceitos dele qual evolucionista. E, de fato, as duas teorias têm uma finalidade similar. Assim como a evolução eliminaria a necessidade de se crer num Criador, assim a alta crítica de Wellhausen significaria que não se precisa crer que a Bíblia foi inspirada por Deus.

  Neste racionalista século 20, a suposição de que a Bíblia não seja a palavra de Deus, mas sim de homem, parece plausível aos intelectuais. Para eles, é muito mais fácil crer que as profecias foram escritas depois do seu cumprimento, do que aceitá-las como genuínas. Preferem invalidar os relatos bíblicos dos milagres por classificá-los de mitos, lendas ou folclore, a considerar a possibilidade de que realmente aconteceram. Mas, tal ponto de vista é preconceituoso e não oferece nenhuma razão válida para se rejeitar a Bíblia como verdadeira. A alta crítica tem sérias falhas, e seu ataque contra a Bíblia deixou de demonstrar que a Bíblia não é a Palavra de Deus.

É a Bíblia Apoiada Pela Arqueologia?

  A arqueologia é um campo de estudo de base muito mais sólida do que a alta crítica. Os arqueólogos, por escavarem os restos de civilizações passadas, aumentaram de muitas maneiras nosso entendimento sobre como as coisas eram nos tempos antigos. Por isso, não surpreende que o registro arqueológico repetidas vezes se harmonize com o que lemos na Bíblia. Ocasionalmente, a arqueologia até mesmo tem vindicado a Bíblia perante os críticos dela.

  Por exemplo, segundo o livro de Daniel, o último governante de Babilônia, antes de esta cair diante dos persas, era chamado Belsazar. (Daniel 5:1-30) Visto que, fora da Bíblia, não parecia haver nenhuma menção de Belsazar, levantou-se a acusação de que a Bíblia estava errada e que este homem nunca existiu. Mas, no século 19, em algumas ruínas no sul do Iraque, descobriram-se diversos cilindros pequenos, com inscrições cuneiformes. Verificou-se que incluíam orações pela saúde do filho mais velho de Nabonido, rei de Babilônia. O nome deste filho? Belsazar.

  Portanto, existia um Belsazar! Mas, será que ele era rei por ocasião da queda de Babilônia? A maioria dos documentos encontrados subseqüentemente referiam-se a ele como filho do rei, príncipe herdeiro. Mas um documento cuneiforme descrito como o "Relato Versificado de Nabonido" lançou mais luz sobre a verdadeira posição de Belsazar. Relatou: "Ele [Nabonido] confiou o ‘Acampamento’ ao seu (filho) mais velho, o primogênito, as tropas em toda a parte no país ele mandou pôr sob (o comando) dele. Largou (tudo), confiou-lhe o reinado." De modo que se confiou o reinado a Belsazar. Certamente, para todos os fins e objetivos, isso fez dele um rei! Este relacionamento entre Belsazar e seu pai, Nabonido, explica por que Belsazar, durante aquele banquete final em Babilônia, ofereceu fazer de Daniel o terceiro governante no reino. (Daniel 5:16) Visto que Nabonido era o primeiro governante, o próprio Belsazar era apenas o segundo governante de Babilônia.

Outra Evidência em Apoio

  De fato, muitas descobertas arqueológicas demonstram a exatidão histórica da Bíblia. Por exemplo, a Bíblia relata que, depois de o Rei Salomão ter assumido o reinado de seu pai, Davi, Israel usufruiu grande prosperidade. Lemos: "Judá e Israel eram muitos, em multidão, iguais aos grãos de areia junto ao mar, comendo e bebendo, e alegrando-se." (1 Reis 4:20) Em apoio desta declaração, lemos: "A evidência arqueológica revela que houve uma explosão populacional em Judá durante e depois do décimo século a.C., quando a paz e a prosperidade trazidas por Davi tornaram possível construir muitas cidades novas."

  Mais tarde, Israel e Judá tornaram-se duas nações, e Israel conquistou a vizinha terra de Moabe. Em certa ocasião, Moabe, sob o Rei Mesa, revoltou-se, e Israel formou uma aliança com Judá e com o vizinho reino de Edom, para guerrear contra Moabe. (2 Reis 3:4-27) Notavelmente, em 1868, em Jordão, descobriu-se uma estela (uma esculpida laje de pedra), inscrita na língua moabita com o relato do próprio Mesa sobre este conflito.

  Daí, no ano 740 a.C., Deus permitiu que o rebelde reino setentrional de Israel fosse destruído pelos assírios. (2 Reis 17:6-18) Falando sobre o relato bíblico deste evento, a arqueóloga Kathleen Kenyon comenta: "Poder-se-ia suspeitar que parte disso fosse uma hipérbole." Mas, será que é? Ela acrescenta: "A evidência arqueológica da queda do reino de Israel é quase mais vívida do que a do registro bíblico. . . . A completa obliteração das cidades israelitas de Samaria e Hazor, e a acompanhante destruição de Megido, é a evidência arqueológica fatual de que o escritor [bíblico] não exagerou."

  Ainda mais tarde, a Bíblia nos conta que Jerusalém, sob o Rei Joaquim, foi sitiada pelos babilônios e foi tomada. Este evento está registrado na Crônica Babilônica, uma tabuinha cuneiforme descoberta pelos arqueólogos. Lemos nela: "O rei de Acade [Babilônia] . . . sitiou a cidade de Judá (iahudu) e o rei tomou a cidade no segundo dia do mês de adaru." Joaquim foi levado a Babilônia e encarcerado. Mais tarde, porém, segundo a Bíblia, ele foi solto da prisão e deu-se-lhe uma subsistência alimentar. (2 Reis 24:8-15; 25:27-30) Isto é apoiado por documentos administrativos encontrados em Babilônia, que alistam as rações dadas a "Yaukîn, rei de Judá".

  Referente à relação entre a arqueologia e os relatos históricos da Bíblia, o Professor David Noel Freedman comentou: "Em geral, porém, a arqueologia tende a apoiar a validez histórica da narrativa bíblica. O amplo esboço cronológico, desde os patriarcas até os tempos do N[ovo] T[estamento], correlaciona-se com os dados arqueológicos. . . . Descobertas adicionais provavelmente confirmarão a atual posição moderada, de que a tradição bíblica tem raízes históricas, e foi fielmente transmitida, embora não seja história no sentido crítico ou científico."

  Daí, a respeito dos esforços dos altos críticos, de desacreditar a Bíblia, ele diz: "As tentativas de reconstituição da história bíblica por eruditos modernos — p. ex., o conceito de Wellhausen, de que a era patriarcal era um reflexo da monarquia dividida; ou a rejeição da historicidade de Moisés e do êxodo, e a conseqüente reestruturação da história israelita por Noth e seus seguidores — não sobreviveram aos dados arqueológicos tão bem como a narrativa bíblica."

A Queda de Jericó

  Significa isso que a arqueologia concorda com a Bíblia em todos os casos? Não, pois há diversos desacordos. Um deles é a conquista dramática de Jericó, descrita no início deste capítulo. Segundo a Bíblia, Jericó foi a primeira cidade conquistada por Josué, quando conduziu os israelitas à terra de Canaã. A cronologia bíblica indica que a cidade caiu na primeira metade do século 15 a.C.. Depois da conquista, Jericó foi completamente queimada e foi deixada desabitada por centenas de anos. — Josué 6:1-26; 1 Reis 16:34.

  Antes da Segunda Guerra Mundial, o Professor John Garstang escavou o sítio que se acreditava ser Jericó. Ele descobriu que a cidade era bem antiga, e que ela havia sido destruída e reconstruída muitas vezes. Garstang constatou que, durante uma destas destruições, os muros desabaram como que num terremoto, e a cidade foi completamente queimada. Garstang achava que isso ocorreu por volta de 1400 a.C., não muito longe da data indicada pela Bíblia para a destruição de Jericó por Josué.

  Depois da guerra, a arqueóloga Kathleen Kenyon fez escavações adicionais em Jericó. Ela chegou à conclusão de que os muros desmoronados, identificados por Garstang, datavam de centenas de anos antes do que ele pensava. Ela, de fato, identificou uma grande destruição de Jericó no século 16 a.C., mas disse que não havia cidade no lugar de Jericó durante o século 15 — quando a Bíblia diz que Josué invadiu a terra. Ela passa então a relatar possíveis indícios de outra destruição que poderia ter ocorrido no lugar em 1325 a.C., e sugere: "Se a destruição de Jericó há de ser associada com uma invasão sob Josué, esta [última] data é a sugerida pela arqueologia."

  Significa isso que a Bíblia está errada? De modo algum. Temos de lembrar-nos que, ao passo que a arqueologia nos oferece uma janela para o passado, esta janela nem sempre oferece uma vista clara. Às vezes está decididamente fosca. Conforme observou um comentador: "A evidência arqueológica, infelizmente, é fragmentária, e, portanto, limitada." Isto se dá especialmente com os primeiros períodos da história israelita, quando a evidência arqueológica não é clara. De fato, a evidência é menos clara em Jericó, visto que o sítio sofreu grande erosão.

As Limitações da Arqueologia

   Os próprios arqueólogos admitem as limitações da sua ciência. Por exemplo, Yohanan Aharoni explica: "Quando se trata de interpretação histórica ou histórico-geográfica, o arqueólogo sai do domínio das ciências exatas, e precisa depender de critérios e hipóteses para chegar a um quadro histórico compreensivo." Sobre as datas atribuídas a diversas descobertas, ele acrescenta: "Sempre devemos lembrar, portanto, que nem todas as datas são absolutas e são em variados graus suspeitas", embora ele ache que os arqueólogos de hoje podem ter mais confiança nas suas datas do que os do passado.

   O Mundo do Antigo Testamento faz a pergunta: "Quão objetivo ou realmente científico é o método arqueológico?" Responde: "Os arqueólogos são mais objetivos quando desenterram os fatos, do que quando os interpretam. Mas, as suas preocupações humanas afetam também os métodos que usam ao ‘escavar’. Não podem deixar de destruir sua evidência ao cavarem através de camadas de terra, de modo que nunca podem testar suas ‘experiências’ por repeti-las. Isto torna a arqueologia ímpar entre as ciências. Além disso, torna a reportagem arqueológica uma tarefa muito difícil e cheia de armadilhas."

  De modo que a arqueologia pode ser muito útil, mas, assim como qualquer outro empreendimento humano, é falível. Ao passo que consideramos com interesse as teorias arqueológicas, nunca devemos encará-las como verdades incontestáveis. Quando os arqueólogos interpretam seus achados dum modo que contradiz a Bíblia, não devemos automaticamente presumir que a Bíblia esteja errada e que os arqueólogos estejam certos. Sabe-se que as interpretações deles têm mudado.

   É de interesse notar que o Professor John J. Bimson, em 1981, examinou de novo a questão da destruição de Jericó. Estudou de perto a ocorrência da destruição ardente de Jericó, a qual — segundo Kathleen Kenyon — ocorreu em meados do século 16 a.C.. Segundo ele, a destruição não somente se ajusta ao relato bíblico da destruição da cidade por Josué, mas o quadro arqueológico de Canaã, como um todo, enquadra-se perfeitamente na descrição bíblica de Canaã quando foi invadido pelos israelitas. Por isso, ele sugere que a datação arqueológica está errada e propõe que esta destruição realmente ocorreu em meados do século 15 a.C., durante a vida de Josué.

A Bíblia É História Genuína

   Isto ilustra o fato de que os arqueólogos muitas vezes divergem entre si. Portanto, não surpreende que alguns discordem da Bíblia, ao passo que outros concordam com ela. Não obstante, alguns eruditos estão chegando a respeitar a historicidade da Bíblia de modo geral, se não em todos os pormenores. William Foxwell Albright representava uma escola de pensamento quando escreveu: "Tem havido um retorno geral ao apreço da exatidão da história religiosa de Israel, tanto no aspecto geral como nos pormenores fatuais. . . . Em suma, agora podemos novamente tratar a Bíblia do começo ao fim como documento autêntico de história religiosa."

   De fato, a própria Bíblia leva o marco de história exata. Os acontecimentos estão relacionados com tempos e datas específicos, dessemelhantes dos da maioria dos antigos mitos e lendas. Muitos acontecimentos registrados na Bíblia são apoiados por inscrições que datam daqueles tempos. Onde ocorre uma diferença entre a Bíblia e alguma inscrição antiga, a discrepância freqüentemente pode ser atribuída à aversão dos antigos governantes de registrar suas próprias derrotas, e ao seu desejo de magnificar os seus êxitos.

   Deveras, muitas daquelas antigas inscrições são mais propaganda oficial do que história. Em contraste, os escritores bíblicos demonstram uma rara franqueza. Principais personagens ancestrais, tais como Moisés e Arão, são revelados em todas as suas fraquezas e em seus pontos fortes. Até mesmo as falhas do grande rei Davi são reveladas com honestidade. As faltas da nação como um todo são repetidas vezes expostas. Este candor recomenda o AT como veraz e fidedigno, e dá peso às palavras de Jesus, que disse, ao orar a Deus: "A tua palavra é a verdade." — João 17:17.

   Albright prosseguiu: "De qualquer modo, a Bíblia sobreleva-se em conteúdo a toda a primitiva literatura religiosa; e sobreleva-se de modo igualmente impressionante a toda a literatura subseqüente na simplicidade direta da sua mensagem e na catolicidade [alcance abrangente] do interesse que desperta em homens de todas as terras e tempos." É esta ‘mensagem sobrelevante’, em vez de o testemunho de eruditos, que prova a inspiração da Bíblia, conforme veremos em capítulos posteriores. Mas, notemos neste respeito que os pensadores racionalistas modernos deixaram de provar que o AT não é história verídica, ao passo que estes próprios escritos fornecem toda a evidência de serem exatos. 

[Nota(s) de rodapé]

A "alta crítica" (ou "o método histórico-crítico") é o termo usado para descrever o estudo da Bíblia com vistas a descobrir detalhes tais como a autoria, a matéria que serviu de fonte e o tempo da composição de cada livro.

Por exemplo, o poeta inglês John Milton escreveu seu grandioso poema épico, "Paraíso Perdido", num estilo bem diferente do seu poema "L’Allegro". E seus tratados políticos foram escritos em mais outro estilo.

Hoje em dia, a maioria dos intelectuais tendem a ser racionalistas. De acordo com um dicionário, racionalismo refere-se a um "sistema que pretende fundar os princípios religiosos sobre os dados fornecidos pela razão". Os racionalistas procuram explicar tudo em termos humanos, em vez de tomar em conta a possibilidade de ação divina.

É de interesse notar que a estátua dum antigo governante, encontrada na Síria setentrional, na década de 1970, mostra que não era incomum que um governante fosse chamado de rei, quando, em sentido estrito, ele tinha um título inferior. A estátua era dum governante de Gozã, e tinha inscrições em assírio e em aramaico. A inscrição assíria chama o homem de governador de Gozã, mas a inscrição aramaica paralela o chama de rei.9 Portanto, não faltava precedente para Belsazar ser chamado de príncipe herdeiro nas inscrições babilônicas oficiais, ao passo que nos escritos aramaicos de Daniel ele é chamado de rei.

[Perguntas de Estudo]

1, 2. Como foi o sítio de Jericó, e que perguntas se suscitam em conexão com ele?

3. Por que é importante examinar se a Bíblia contém história verídica?

4-6. Quais são algumas das teorias de alta crítica, de Wellhausen?

7, 8. Que "provas" apresentou Wellhausen para as suas teorias, e eram válidas?

9-11. Quais são algumas das destacadas fraquezas da moderna alta crítica?

12. Como se revela a moderna alta crítica à luz da arqueologia?

13, 14. Apesar das suas bases fracas, por que ainda se aceita amplamente a alta crítica de Wellhausen?

15, 16. A existência de que antigo governante, mencionado na Bíblia, foi confirmada pela arqueologia?

17. Como podemos explicar que a Bíblia chama Belsazar de rei, ao passo que a maioria das inscrições o chamam de príncipe?

18. Que informações fornece a arqueologia para confirmar a paz e a prosperidade resultante do reinado de Davi?

19. Que informações adicionais fornece a arqueologia sobre a guerra entre Israel e Moabe?

20. O que nos revela a arqueologia sobre a destruição de Israel pelos assírios?

21. Que pormenores sobre a subjugação de Judá pelos babilônios são fornecidos pela arqueologia?

22, 23. De modo geral, que relação há entre a arqueologia e os relatos históricos da Bíblia?

24. Que informações nos fornece a Bíblia sobre a queda de Jericó?

25, 26. A que duas conclusões diferentes chegaram os arqueólogos em resultado de escavações em Jericó?

27. Por que não nos devem indevidamente perturbar as discrepâncias entre a arqueologia e a Bíblia?

28, 29. Quais são algumas das limitações da arqueologia, admitidas pelos eruditos?

30. Como é a arqueologia encarada pelos estudantes da Bíblia?

31. Que nova sugestão foi feita recentemente a respeito da queda de Jericó?

32. Que tendência se tem observado entre alguns eruditos?

33, 34. Como fornecem as próprias Escrituras Hebraicas evidência de serem historicamente exatas?

35. Que deixaram de fazer pensadores racionalistas, e a que recorrem os estudantes da Bíblia para provar a inspiração da Bíblia?

[Destaque na página 53]

Em contraste com as antigas histórias seculares, a Bíblia registra francamente as falhas humanas de personagens respeitados, tais como Moisés e Davi.

[Foto na página 41]

Milton escreveu em estilos diferentes, não apenas em um. Acham os altos críticos que a obra dele é produto de diversos escritores?

[Foto na página 45]

O "Relato Versificado de Nabonido" conta que Nabonido confiou o reinado ao seu primogênito.

[Foto na página 46]

A Pedra Moabita apresenta a versão do Rei Mesa a respeito do conflito entre Moabe e Israel.

[Foto na página 47]

Os registros babilônicos oficiais apóiam o relato bíblico da queda de Jerusalém.

O Valor da Arqueologia

"A arqueologia provê uma amostra de antigas ferramentas e vasos, muros e prédios, armas e adornos. A maioria destes pode ser posta em ordem cronológica, e com segurança identificada com termos apropriados e contextos contidos na Bíblia. Neste sentido, a Bíblia preserva com exatidão, em forma escrita, seu antigo ambiente cultural. Os pormenores das histórias bíblicas não são o produto fantasioso da imaginação dum autor, mas, antes, são reflexos autênticos do mundo no qual ocorreram os eventos registrados, desde os mundanos até os miraculosos." — The Archaeological Encyclopedia of the Holy Land (A Enciclopédia Arqueológica da Terra Santa).

O Que a Arqueologia Pode e o Que Não Pode Fazer

"A arqueologia nem prova nem refuta a Bíblia em termos conclusivos, mas ela tem outras funções de considerável importância. Recupera em certo grau o mundo material pressuposto pela Bíblia. Conhecer, digamos, o material com que se construía uma casa, ou como era um ‘alto’, aumenta em muito nosso entendimento do texto. Em segundo lugar, preenche as lacunas do registro histórico. A Pedra Moabita, por exemplo, apresenta o outro lado da história tratada em 2 Reis 3:4ss. . . . Em terceiro lugar, revela a vida e o pensamento dos vizinhos do antigo Israel — o que já em si é de interesse, e que ilumina o mundo de idéias, dentro do qual se desenvolveu o pensamento do antigo Israel." — Ebla—A Revelation in Archaeology (Ebla — Uma Revelação em Arqueologia).

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