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O Período Neo-Babilônico e a Destruição de Jerusalém – Parte 2
Por Carl Olof Jonsson (texto modificado e adaptado por Carlos M. Silva)
Fonte: Mentes Bereanas

“Além disso, ele levou cativos a Babilônia os que foram deixados pela espada, e eles vieram a ser servos dele e dos seus filhos até o começo do reinado da realeza da Pérsia; para cumprir a palavra de Jeová pela boca de Jeremias, até que a terra tivesse saldado os seus sábados. Todos os dias em que jazia desolada, guardava o sábado, para cumprir setenta anos.” – 2 Crônicas 36:20-21.

Uma leitura rápida do texto acima poderia dar a impressão de que o cronista declara que a terra ficaria num descanso sabático de setenta anos, e que isso fora predito por Jeremias. Mas Jeremias não falou dos setenta anos como sendo um período para a terra saldar os seus sábados de anos. De fato, não há referência alguma a um descanso sabático para a terra no seu livro.

Portanto, as palavras de Esdras “até que a terra tivesse saldado os seus sábados, todos os dias em que jazia desolada, guardava o sábado”, não poderia ser um cumprimento da “palavra de Jeová pela boca de Jeremias”. As duas cláusulas sobre o descanso sabático, conforme já foi observado por comentadores bíblicos, são uma referência à outra predição, encontrada em Levítico, capítulo 26. É por isso que alguns tradutores da Bíblia colocam a citação de Levítico 26 (feita pelo cronista) com travessões ou entre parêntesis para indicar que não se refere ao texto de Jeremias. Veja o contexto dessa profecia de Levítico:

“Se não me escutardes, nem cumprirdes todos estes mandamentos.... tereis de ser entregues na mão dum inimigo.... tereis de comer a carne de vossos filhos e comereis a carne de vossas filhas.... entregarei vossas cidades à espada.... e eu, da minha parte, vou desolar o país.... e a vós é que espalharei entre as nações e vou desembainhar a espada atrás de vós; e vossa terra terá de tornar-se uma desolação e vossas cidades se tornarão ruínas desoladas.... e naquele tempo saldará a terra os seus sábados, todos os dias em que jazer desolada, enquanto estiverdes na terra de vossos inimigos. Naquele tempo a terra guardará o sábado, visto que tem de saldar os seus sábados. Guardará o sábado todos os dias em que jazer desolada, visto que não guardou o sábado nos vossos sábados quando moráveis nela.” – Levítico 26:14-35.

Entre outras coisas, esse capítulo previne que se os do povo não obedecessem a lei dos sábados de anos (esclarecida no capítulo precedente de Levítico 25), eles seriam dispersados entre as nações e sua terra jazeria desolada. Dessa maneira a terra poderia “saldar os seus sábados”.

Tal como Daniel anteriormente, o escritor de Crônicas entendeu a desolação de Judá como sendo o cumprimento dessa predita maldição na lei de Moisés. Ele, portanto, inseriu essa predição de Levítico 26 para mostrar que ela se cumpriu depois da deportação final para Babilônia, exatamente como fora predito através de Moisés: “Enquanto estiverdes na terra de vossos inimigos”. Por inserir as duas cláusulas de Levítico 26, o cronista não queria dizer que a terra teria um descanso sabático de setenta anos, já que isso não foi predito nem por Moisés, nem por Jeremias. Ele não estava dizendo explicitamente quanto ela descansou, apenas que “todos os dias em que jazia desolada, guardava o sábado.” – 2 Crônicas 36:20.

Da mesma maneira que Daniel, o principal interesse do cronista era o retorno dos exilados, e sendo assim ele destacou que eles deveriam ficar em Babilônia até duas profecias se cumprirem: (1) a de Jeremias sobre os setenta anos de supremacia “de Babilônia”, e (2) a de Levítico sobre a desolação e o descanso sabático da terra de Judá. Essas profecias não devem ser misturadas e confundidas, como é feito freqüentemente. Não só elas se referem a períodos de diferentes durações, como se referem a diferentes nações. Mas como os dois períodos correm em certo ponto paralelos, sendo o fim de um período dentro do outro, o cronista, assim como Daniel, os colocou juntos, relacionando-os de forma muito próxima.

Uma análise da lei de Deus sobre o sábado de anos, também fornece informações interessantes sobre esse assunto. Só lembrando, de acordo com essa lei a terra teria que usufruir um descanso sabático a cada sete anos. Durante seis anos o plantio poderia ser feito normalmente, mas no sétimo ano a terra deveria descansar, ficando, como dizem os especialistas de agricultura, alqueivada. (Levítico 25:1-7) Alqueivar a terra era estabelecer uma interrupção no plantio que servia para aumentar a capacidade de fertilidade da terra. “Servia para reduzir a quantidade de alcalinos, sódio e cálcio, depositados no solo pelas águas de irrigação.” (Baruch A. Levine, The JPS Commentary: Leviticus. Philadelphia, New York, Jerusalém, The Jewish Publication Society, 1989, p. 272.) A violação dessa ordem destruiria gradualmente o solo e reduziria o rendimento das colheitas.

Se em 14 anos, por exemplo, dois anos não fossem reservados para descanso da terra, o povo de Judá ficaria devendo 2 anos para Jeová. Se em mais 14 anos, 2 anos não fossem para descanso da terra, a dívida aumentaria para 4 anos, e assim por diante. Se Jerusalém foi destruída em 587 AEC, e os judeus retornaram em 537 AEC, o exílio durou 50 anos. Mas se eles retornaram em 538 AEC (no 1º ano de Ciro), significa que a terra ficou desolada por 49 anos. Coincidência ou não, esse era também o período máximo durante o qual um israelita podia privar alguém do usufruto de sua terra, de acordo com a lei de posse da terra. Se um israelita, por necessidade, tivesse que vender sua terra, herdada de seus pais, ele não ficaria para sempre sem ela. Quando chegasse o sétimo sábado de anos (depois de 49 anos), o comprador tinha de devolver a terra para o dono original. Esse era o grande jubileu sabático que acontecia depois de 49 anos. – Levítico 25:8-28.

Se os 49 anos de descanso sabático correspondem ao exato número de sábados de anos que foram negligenciados pelos israelitas, todo o período de violação da lei seria de 49 x 7 = 343 anos, ou conforme o esquema:

Se esse período se estendeu até 587 AEC, ele começou por volta de 930 AEC. Curiosamente, os modernos cronologistas que têm examinado cuidadosamente as evidências bíblicas e extra-bíblicas, usualmente datam a divisão do reino em 930 AEC ou arredores. (F. X. Kugler, por exemplo, tem 930, E. R. Thiele e K. A. Kitchen 931/30, e W. H. Barnes 932 AEC). Como a divisão do reino, na época de Salomão, resultou num total abandono da adoração no templo em Jerusalém pela maioria do povo, não é desarrazoado pensar que uma grande negligência dos sábados de anos tenha começado naquele tempo.

Portanto, o texto de Crônicas, citado no início, se refere a duas profecias distintas, porém, combinadas:


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