Pode-se
crer no Antigo Testamento?
UMA cidade antiga está
sendo sitiada. Seus atacantes haviam atravessado em massa o rio
Jordão e estavam agora acampados diante das altas muralhas da cidade.
Mas, que estranha tática de guerra! Todos os dias, durante seis dias,
o exército invasor marchara ao redor da cidade em silêncio, rompido
apenas por um acompanhante grupo de sacerdotes que tocara buzinas.
Agora, no sétimo dia, o exército marcha silencioso sete vezes ao
redor da cidade. De repente, os sacerdotes tocam as buzinas com toda a
força. O exército rompe o silêncio com um forte grito de guerra, e
as altas muralhas da cidade desmoronam numa nuvem de poeira, deixando
a cidade indefesa. — Josué 6:1-21.
É assim
que o livro de Josué, o sexto do Antigo Testamento (doravante AT),
descreve a queda de Jericó, que ocorreu há quase 3.500 anos. Mas,
será que aconteceu realmente? Muitos altos críticos responderiam
confiantemente que não. Eles afirmam que o livro de Josué, junto com
os cinco livros precedentes da Bíblia, é composto de lendas escritas
muitos séculos depois da ocorrência dos alegados eventos. Também
muitos arqueólogos diriam o mesmo. Segundo eles, quando os israelitas
entraram na terra de Canaã, Jericó talvez nem existisse.
Estas
são acusações sérias. Ao passo que ler a Bíblia, notará que os
ensinos dela se relacionam solidamente com a história. Deus lida com
homens, mulheres, famílias e nações reais, e suas ordens são dadas
a um povo histórico. Os eruditos modernos que lançam dúvidas sobre
a historicidade da Bíblia também lançam dúvidas sobre a
importância e a fidedignidade da sua mensagem. Se a Bíblia realmente
é a Palavra de Deus, então a sua história tem de ser fidedigna, e
não conter meras lendas e mitos. Será que esses críticos têm
alguma base para desafiar a veracidade histórica dela?
A
Alta Crítica — Quão Confiável É?
A alta
crítica da Bíblia começou a sério durante os séculos 18
e 19. Na última metade do século 19, o crítico da Bíblia
alemão Julius Wellhausen popularizou a teoria de que os primeiros
seis livros da Bíblia, incluindo Josué, foram escritos no quinto
século a.C. — cerca de mil anos depois dos acontecimentos
descritos. No entanto, ele disse que contêm matéria escrita
anteriormente.1 Esta teoria foi apresentada na 11.a edição
da Enciclopédia Britânica, publicada em 1911, que
explicava: "Gênesis é uma obra pós-exílica, composta de fonte
sacerdotal pós-exílica (P) e de anteriores fontes
não-sacerdotais, notadamente diferentes de P em linguagem, estilo e
ponto de vista religioso."
Para
Wellhausen e seus seguidores, toda a história registrada na primeira
parte do AT era, "não história literal, mas tradições
populares do passado". Os relatos anteriores eram considerados
apenas um reflexo da história posterior de Israel. Por exemplo,
declarou-se que a inimizade entre Jacó e Esaú realmente não
aconteceu, mas refletia a inimizade entre as nações de Israel e de
Edom em tempos posteriores.
Em
harmonia com isso, esses críticos achavam que Moisés nunca recebeu
ordem para fazer a arca do pacto, e que o tabernáculo, centro da
adoração israelita no ermo, nunca existiu. Eles acreditavam também
que a autoridade do sacerdócio arônico só foi plenamente
estabelecida poucos anos antes da destruição de Jerusalém pelos
babilônios, a qual os críticos acreditavam ter acontecido no começo
do sexto século a.C..
Que
"provas" apresentaram para essas idéias? Os altos críticos
afirmam que conseguem dividir o texto dos primeiros livros da Bíblia
em diversos documentos diferentes. Um princípio básico que eles usam
é presumir que, falando-se de modo geral, todo versículo da Bíblia
que usa a palavra hebraica para Deus (’Elo·hím) sozinha foi
escrito por um escritor, ao passo que todo versículo que se refere a
Deus pelo nome dele, Iahweh, deve ter sido escrito por outro — como
se um mesmo escritor não pudesse usar ambos os termos.
De
modo similar, sempre que um evento se encontra registrado mais de uma
vez num livro, toma-se isso como prova de que mais de um escritor o
produziu, embora a antiga literatura semítica apresente outros
exemplos similares de repetição. Além disso, presume-se que toda
mudança de estilo significa uma mudança de escritor. No entanto,
até mesmo escritores, nas línguas atuais, freqüentemente escrevem
em estilos diferentes, em estágios diferentes de sua carreira, ou ao
tratarem de matéria diferente.
Existe realmente
alguma prova que substancie essas teorias? Nenhuma. Certo comentador
escreveu: "A crítica, mesmo no melhor dos casos, é especulativa
e tentativa, algo sempre sujeito a ser modificado ou mostrado errado,
e que tem de ser substituído por outra coisa. É um exercício
intelectual, sujeito a todas as dúvidas e palpites que são
inseparáveis de tais exercícios." A alta crítica bíblica, em
especial, é "especulativa e tentativa" em extremo.
Gleason L. Archer, Jr., mostra outra falha no raciocínio da alta
crítica. O problema, segundo ele, é que "a escola de Wellhausen
começou com a pura suposição (que praticamente não se incomodaram
de demonstrar) que a religião de Israel era de mera origem humana,
como qualquer outra, e que devia ser explicada como mero produto da
evolução". Em outras palavras, Wellhausen e seus seguidores
começaram com a suposição de que a Bíblia era apenas a palavra de
homem, e seus argumentos partiram deste ponto.
Lá em
1909, The Jewish Encyclopedia (A Enciclopédia
Judaica) mencionou mais duas fraquezas da teoria de Wellhausen:
"Os argumentos com os quais Wellhausen cativou quase que
inteiramente todo o grupo de críticos contemporâneos da Bíblia
baseiam-se em duas suposições: primeiro, que o rito fica mais
apurado com o desenvolvimento da religião; segundo, que as fontes
mais antigas necessariamente tratam dos estágios mais primitivos do
desenvolvimento ritual. A primeira suposição é contrária à
evidência das culturas primitivas, e a última não encontra nenhum
apoio na evidência de códigos rituais, tais como os da Índia."
Existe
um modo de testar a alta crítica, para ver se suas teorias são
corretas, ou não? A Enciclopédia Judaica
prossegue: "Os conceitos de Wellhausen baseiam-se quase que
exclusivamente numa análise literal, e precisam ser suplementados por
um exame feito do ponto de vista da arqueologia institucional."
Será que a arqueologia, com o passar dos anos, tendeu a confirmar as
teorias de Wellhausen? The New Encyclopædia Britannica
(A Nova Enciclopédia Britânica) responde: "A crítica
arqueológica tende a substanciar a fidedignidade dos pormenores
históricos, típicos, mesmo dos períodos mais antigos [da história
bíblica] e a desconsiderar a teoria de que os relatos do Pentateuco
[os registros históricos nos mais antigos livros da Bíblia] sejam
meros reflexos de um período muito posterior."
Em
vista da fraqueza da alta crítica, por que é ela hoje tão popular
entre os intelectuais? Porque lhes diz coisas que querem ouvir. Certo
erudito do século 19 explicou: "Eu, pessoalmente, aceito
mais este livro de Wellhausen do que quase qualquer outro; porque
parece-me que o problema premente da história do Antigo Testamento
por fim é solucionado dum modo consoante com o princípio
da evolução humana, que me vejo forçado a
aplicar à história de todas as religiões." Evidentemente, a
alta crítica concordava com os preconceitos dele qual evolucionista.
E, de fato, as duas teorias têm uma finalidade similar. Assim como a
evolução eliminaria a necessidade de se crer num Criador, assim a
alta crítica de Wellhausen significaria que não se precisa crer que
a Bíblia foi inspirada por Deus.
Neste
racionalista século 20, a suposição de que a Bíblia não seja
a palavra de Deus, mas sim de homem, parece plausível aos
intelectuais. Para eles, é muito mais fácil crer que as profecias
foram escritas depois do seu cumprimento, do que aceitá-las como
genuínas. Preferem invalidar os relatos bíblicos dos milagres por
classificá-los de mitos, lendas ou folclore, a considerar a
possibilidade de que realmente aconteceram. Mas, tal ponto de vista é
preconceituoso e não oferece nenhuma razão válida para se rejeitar
a Bíblia como verdadeira. A alta crítica tem sérias falhas, e seu
ataque contra a Bíblia deixou de demonstrar que a Bíblia não é a
Palavra de Deus.
É
a Bíblia Apoiada Pela Arqueologia?
A
arqueologia é um campo de estudo de base muito mais sólida do que a
alta crítica. Os arqueólogos, por escavarem os restos de
civilizações passadas, aumentaram de muitas maneiras nosso
entendimento sobre como as coisas eram nos tempos antigos. Por isso,
não surpreende que o registro arqueológico repetidas vezes se
harmonize com o que lemos na Bíblia. Ocasionalmente, a arqueologia
até mesmo tem vindicado a Bíblia perante os críticos dela.
Por
exemplo, segundo o livro de Daniel, o último governante de
Babilônia, antes de esta cair diante dos persas, era chamado
Belsazar. (Daniel 5:1-30) Visto que, fora da Bíblia, não parecia
haver nenhuma menção de Belsazar, levantou-se a acusação de que a
Bíblia estava errada e que este homem nunca existiu. Mas, no
século 19, em algumas ruínas no sul do Iraque, descobriram-se
diversos cilindros pequenos, com inscrições cuneiformes.
Verificou-se que incluíam orações pela saúde do filho mais velho
de Nabonido, rei de Babilônia. O nome deste filho? Belsazar.
Portanto, existia um Belsazar! Mas, será que ele era rei por ocasião
da queda de Babilônia? A maioria dos documentos encontrados
subseqüentemente referiam-se a ele como filho do rei, príncipe
herdeiro. Mas um documento cuneiforme descrito como o "Relato
Versificado de Nabonido" lançou mais luz sobre a verdadeira
posição de Belsazar. Relatou: "Ele [Nabonido] confiou o ‘Acampamento’
ao seu (filho) mais velho, o primogênito, as tropas em toda a parte
no país ele mandou pôr sob (o comando) dele. Largou (tudo),
confiou-lhe o reinado." De modo que se confiou o reinado a
Belsazar. Certamente, para todos os fins e objetivos, isso fez dele um
rei! Este relacionamento entre Belsazar e seu pai, Nabonido, explica
por que Belsazar, durante aquele banquete final em Babilônia,
ofereceu fazer de Daniel o terceiro governante no reino.
(Daniel 5:16) Visto que Nabonido era o primeiro governante, o próprio
Belsazar era apenas o segundo governante de Babilônia.
Outra
Evidência em Apoio
De
fato, muitas descobertas arqueológicas demonstram a exatidão
histórica da Bíblia. Por exemplo, a Bíblia relata que, depois de o
Rei Salomão ter assumido o reinado de seu pai, Davi, Israel usufruiu
grande prosperidade. Lemos: "Judá e Israel eram muitos, em
multidão, iguais aos grãos de areia junto ao mar, comendo e bebendo,
e alegrando-se." (1 Reis 4:20) Em apoio desta declaração,
lemos: "A evidência arqueológica revela que houve uma explosão
populacional em Judá durante e depois do décimo século a.C.,
quando a paz e a prosperidade trazidas por Davi tornaram possível
construir muitas cidades novas."
Mais
tarde, Israel e Judá tornaram-se duas nações, e Israel conquistou a
vizinha terra de Moabe. Em certa ocasião, Moabe, sob o Rei Mesa,
revoltou-se, e Israel formou uma aliança com Judá e com o vizinho
reino de Edom, para guerrear contra Moabe. (2 Reis 3:4-27)
Notavelmente, em 1868, em Jordão, descobriu-se uma estela (uma
esculpida laje de pedra), inscrita na língua moabita com o relato do
próprio Mesa sobre este conflito.
Daí,
no ano 740 a.C., Deus permitiu que o rebelde reino setentrional
de Israel fosse destruído pelos assírios. (2 Reis 17:6-18)
Falando sobre o relato bíblico deste evento, a arqueóloga Kathleen
Kenyon comenta: "Poder-se-ia suspeitar que parte disso fosse uma
hipérbole." Mas, será que é? Ela acrescenta: "A
evidência arqueológica da queda do reino de Israel é quase mais
vívida do que a do registro bíblico. . . . A completa
obliteração das cidades israelitas de Samaria e Hazor, e a
acompanhante destruição de Megido, é a evidência arqueológica
fatual de que o escritor [bíblico] não exagerou."
Ainda
mais tarde, a Bíblia nos conta que Jerusalém, sob o Rei Joaquim, foi
sitiada pelos babilônios e foi tomada. Este evento está registrado
na Crônica Babilônica, uma tabuinha cuneiforme descoberta pelos
arqueólogos. Lemos nela: "O rei de Acade [Babilônia]
. . . sitiou a cidade de Judá (iahudu) e o rei tomou
a cidade no segundo dia do mês de adaru." Joaquim foi
levado a Babilônia e encarcerado. Mais tarde, porém, segundo a
Bíblia, ele foi solto da prisão e deu-se-lhe uma subsistência
alimentar. (2 Reis 24:8-15; 25:27-30) Isto é apoiado por
documentos administrativos encontrados em Babilônia, que alistam as
rações dadas a "Yaukîn, rei de Judá".
Referente à relação entre a arqueologia e os relatos históricos da
Bíblia, o Professor David Noel Freedman comentou: "Em geral,
porém, a arqueologia tende a apoiar a validez histórica da narrativa
bíblica. O amplo esboço cronológico, desde os patriarcas até os
tempos do N[ovo] T[estamento], correlaciona-se com os dados
arqueológicos. . . . Descobertas adicionais provavelmente
confirmarão a atual posição moderada, de que a tradição bíblica
tem raízes históricas, e foi fielmente transmitida, embora não seja
história no sentido crítico ou científico."
Daí,
a respeito dos esforços dos altos críticos, de desacreditar a
Bíblia, ele diz: "As tentativas de reconstituição da história
bíblica por eruditos modernos — p. ex., o conceito de
Wellhausen, de que a era patriarcal era um reflexo da monarquia
dividida; ou a rejeição da historicidade de Moisés e do êxodo, e a
conseqüente reestruturação da história israelita por Noth e seus
seguidores — não sobreviveram aos dados arqueológicos tão bem
como a narrativa bíblica."
A
Queda de Jericó
Significa
isso que a arqueologia concorda com a Bíblia em todos os casos? Não,
pois há diversos desacordos. Um deles é a conquista dramática de
Jericó, descrita no início deste capítulo. Segundo a Bíblia,
Jericó foi a primeira cidade conquistada por Josué, quando conduziu
os israelitas à terra de Canaã. A cronologia bíblica indica que a
cidade caiu na primeira metade do século 15 a.C.. Depois da
conquista, Jericó foi completamente queimada e foi deixada desabitada
por centenas de anos. — Josué 6:1-26; 1 Reis 16:34.
Antes da Segunda
Guerra Mundial, o Professor John Garstang escavou o sítio que se
acreditava ser Jericó. Ele descobriu que a cidade era bem antiga, e
que ela havia sido destruída e reconstruída muitas vezes. Garstang
constatou que, durante uma destas destruições, os muros desabaram
como que num terremoto, e a cidade foi completamente queimada.
Garstang achava que isso ocorreu por volta de 1400 a.C., não
muito longe da data indicada pela Bíblia para a destruição de
Jericó por Josué.
Depois
da guerra, a arqueóloga Kathleen Kenyon fez escavações adicionais
em Jericó. Ela chegou à conclusão de que os muros desmoronados,
identificados por Garstang, datavam de centenas de anos antes do que
ele pensava. Ela, de fato, identificou uma grande destruição de
Jericó no século 16 a.C., mas disse que não havia cidade no
lugar de Jericó durante o século 15 — quando a Bíblia diz
que Josué invadiu a terra. Ela passa então a relatar possíveis
indícios de outra destruição que poderia ter ocorrido no lugar em
1325 a.C., e sugere: "Se a destruição de Jericó há de
ser associada com uma invasão sob Josué, esta [última] data é a
sugerida pela arqueologia."
Significa isso que a Bíblia está errada? De modo algum. Temos de
lembrar-nos que, ao passo que a arqueologia nos oferece uma janela
para o passado, esta janela nem sempre oferece uma vista clara. Às
vezes está decididamente fosca. Conforme observou um comentador:
"A evidência arqueológica, infelizmente, é fragmentária, e,
portanto, limitada." Isto se dá especialmente com os primeiros
períodos da história israelita, quando a evidência arqueológica
não é clara. De fato, a evidência é menos clara em Jericó, visto
que o sítio sofreu grande erosão.
As
Limitações da Arqueologia
Os próprios arqueólogos admitem as limitações da sua ciência. Por
exemplo, Yohanan Aharoni explica: "Quando se trata de
interpretação histórica ou histórico-geográfica, o arqueólogo
sai do domínio das ciências exatas, e precisa depender de critérios
e hipóteses para chegar a um quadro histórico compreensivo."
Sobre as datas atribuídas a diversas descobertas, ele acrescenta:
"Sempre devemos lembrar, portanto, que nem todas as datas são
absolutas e são em variados graus suspeitas", embora ele ache
que os arqueólogos de hoje podem ter mais confiança nas suas datas
do que os do passado.
O Mundo do
Antigo Testamento faz a pergunta: "Quão objetivo
ou realmente científico é o método arqueológico?" Responde:
"Os arqueólogos são mais objetivos quando desenterram os fatos,
do que quando os interpretam. Mas, as suas preocupações humanas
afetam também os métodos que usam ao ‘escavar’. Não podem
deixar de destruir sua evidência ao cavarem através de camadas de
terra, de modo que nunca podem testar suas ‘experiências’ por
repeti-las. Isto torna a arqueologia ímpar entre as ciências. Além
disso, torna a reportagem arqueológica uma tarefa muito difícil e
cheia de armadilhas."
De
modo que a arqueologia pode ser muito útil, mas, assim como qualquer
outro empreendimento humano, é falível. Ao passo que consideramos
com interesse as teorias arqueológicas, nunca devemos encará-las
como verdades incontestáveis. Quando os arqueólogos interpretam seus
achados dum modo que contradiz a Bíblia, não devemos automaticamente
presumir que a Bíblia esteja errada e que os arqueólogos estejam
certos. Sabe-se que as interpretações deles têm mudado.
É de interesse notar que o Professor John J. Bimson, em 1981,
examinou de novo a questão da destruição de Jericó. Estudou de
perto a ocorrência da destruição ardente de Jericó, a qual —
segundo Kathleen Kenyon — ocorreu em meados do século 16 a.C..
Segundo ele, a destruição não somente se ajusta ao relato bíblico
da destruição da cidade por Josué, mas o quadro arqueológico de
Canaã, como um todo, enquadra-se perfeitamente na descrição
bíblica de Canaã quando foi invadido pelos israelitas. Por isso, ele
sugere que a datação arqueológica está errada e propõe que esta
destruição realmente ocorreu em meados do século 15 a.C.,
durante a vida de Josué.
A
Bíblia É História Genuína
Isto ilustra o fato de que os arqueólogos muitas vezes divergem entre
si. Portanto, não surpreende que alguns discordem da Bíblia, ao
passo que outros concordam com ela. Não obstante, alguns eruditos
estão chegando a respeitar a historicidade da Bíblia de modo geral,
se não em todos os pormenores. William Foxwell Albright representava
uma escola de pensamento quando escreveu: "Tem havido um retorno
geral ao apreço da exatidão da história religiosa de Israel, tanto
no aspecto geral como nos pormenores fatuais. . . . Em suma,
agora podemos novamente tratar a Bíblia do começo ao fim como
documento autêntico de história religiosa."
De fato, a própria Bíblia leva o marco de história exata. Os
acontecimentos estão relacionados com tempos e datas específicos,
dessemelhantes dos da maioria dos antigos mitos e lendas. Muitos
acontecimentos registrados na Bíblia são apoiados por inscrições
que datam daqueles tempos. Onde ocorre uma diferença entre a Bíblia
e alguma inscrição antiga, a discrepância freqüentemente pode ser
atribuída à aversão dos antigos governantes de registrar suas
próprias derrotas, e ao seu desejo de magnificar os seus êxitos.
Deveras, muitas daquelas antigas inscrições são mais propaganda
oficial do que história. Em contraste, os escritores bíblicos
demonstram uma rara franqueza. Principais personagens ancestrais, tais
como Moisés e Arão, são revelados em todas as suas fraquezas e em
seus pontos fortes. Até mesmo as falhas do grande rei Davi são
reveladas com honestidade. As faltas da nação como um todo são
repetidas vezes expostas. Este candor recomenda o AT como veraz e
fidedigno, e dá peso às palavras de Jesus, que disse, ao orar a
Deus: "A tua palavra é a verdade." — João 17:17.
Albright prosseguiu: "De qualquer modo, a Bíblia sobreleva-se em
conteúdo a toda a primitiva literatura religiosa; e sobreleva-se de
modo igualmente impressionante a toda a literatura subseqüente na
simplicidade direta da sua mensagem e na catolicidade [alcance
abrangente] do interesse que desperta em homens de todas as terras e
tempos." É esta ‘mensagem sobrelevante’, em vez de o
testemunho de eruditos, que prova a inspiração da Bíblia, conforme
veremos em capítulos posteriores. Mas, notemos neste respeito que os
pensadores racionalistas modernos deixaram de provar que o AT não é
história verídica, ao passo que estes próprios escritos fornecem
toda a evidência de serem exatos.
[Nota(s)
de rodapé]
A "alta
crítica" (ou "o método histórico-crítico") é o
termo usado para descrever o estudo da Bíblia com vistas a
descobrir detalhes tais como a autoria, a matéria que serviu de
fonte e o tempo da composição de cada livro.
Por exemplo, o
poeta inglês John Milton escreveu seu grandioso poema épico,
"Paraíso Perdido", num estilo bem diferente do seu poema
"L’Allegro". E seus tratados políticos foram escritos
em mais outro estilo.
Hoje em dia, a
maioria dos intelectuais tendem a ser racionalistas. De
acordo com um dicionário, racionalismo refere-se a um "sistema
que pretende fundar os princípios religiosos sobre os dados
fornecidos pela razão". Os racionalistas procuram explicar
tudo em termos humanos, em vez de tomar em conta a possibilidade de
ação divina.
É de interesse
notar que a estátua dum antigo governante, encontrada na Síria
setentrional, na década de 1970, mostra que não era incomum que um
governante fosse chamado de rei, quando, em sentido estrito, ele
tinha um título inferior. A estátua era dum governante de Gozã, e
tinha inscrições em assírio e em aramaico. A inscrição assíria
chama o homem de governador de Gozã, mas a inscrição aramaica
paralela o chama de rei.9 Portanto, não faltava
precedente para Belsazar ser chamado de príncipe herdeiro nas
inscrições babilônicas oficiais, ao passo que nos escritos
aramaicos de Daniel ele é chamado de rei.
[Perguntas
de Estudo]
1, 2.
Como foi o sítio de Jericó, e que perguntas se suscitam em
conexão com ele?
3. Por
que é importante examinar se a Bíblia contém história
verídica?
4-6.
Quais são algumas das teorias de alta crítica, de Wellhausen?
7, 8.
Que "provas" apresentou Wellhausen para as suas teorias,
e eram válidas?
9-11.
Quais são algumas das destacadas fraquezas da moderna alta
crítica?
12. Como se
revela a moderna alta crítica à luz da arqueologia?
13, 14. Apesar
das suas bases fracas, por que ainda se aceita amplamente a alta
crítica de Wellhausen?
15, 16. A
existência de que antigo governante, mencionado na Bíblia, foi
confirmada pela arqueologia?
17. Como
podemos explicar que a Bíblia chama Belsazar de rei, ao passo que
a maioria das inscrições o chamam de príncipe?
18. Que
informações fornece a arqueologia para confirmar a paz e a
prosperidade resultante do reinado de Davi?
19. Que
informações adicionais fornece a arqueologia sobre a guerra
entre Israel e Moabe?
20. O que nos
revela a arqueologia sobre a destruição de Israel pelos
assírios?
21. Que
pormenores sobre a subjugação de Judá pelos babilônios são
fornecidos pela arqueologia?
22, 23. De
modo geral, que relação há entre a arqueologia e os relatos
históricos da Bíblia?
24. Que
informações nos fornece a Bíblia sobre a queda de Jericó?
25, 26. A que
duas conclusões diferentes chegaram os arqueólogos em resultado
de escavações em Jericó?
27. Por que
não nos devem indevidamente perturbar as discrepâncias entre a
arqueologia e a Bíblia?
28, 29. Quais
são algumas das limitações da arqueologia, admitidas pelos
eruditos?
30. Como é a
arqueologia encarada pelos estudantes da Bíblia?
31. Que nova
sugestão foi feita recentemente a respeito da queda de Jericó?
32. Que
tendência se tem observado entre alguns eruditos?
33, 34. Como
fornecem as próprias Escrituras Hebraicas evidência de serem
historicamente exatas?
35. Que
deixaram de fazer pensadores racionalistas, e a que recorrem os
estudantes da Bíblia para provar a inspiração da Bíblia?
[Destaque
na página 53]
Em contraste com as
antigas histórias seculares, a Bíblia registra francamente as falhas
humanas de personagens respeitados, tais como Moisés e Davi.
[Foto
na página 41]
Milton escreveu em
estilos diferentes, não apenas em um. Acham os altos críticos que a
obra dele é produto de diversos escritores?
[Foto
na página 45]
O "Relato
Versificado de Nabonido" conta que Nabonido confiou o reinado ao
seu primogênito.
[Foto
na página 46]
A Pedra Moabita
apresenta a versão do Rei Mesa a respeito do conflito entre Moabe e
Israel.
[Foto
na página 47]
Os registros
babilônicos oficiais apóiam o relato bíblico da queda de
Jerusalém.
O
Valor da Arqueologia
"A arqueologia
provê uma amostra de antigas ferramentas e vasos, muros e
prédios, armas e adornos. A maioria destes pode ser posta em
ordem cronológica, e com segurança identificada com termos
apropriados e contextos contidos na Bíblia. Neste sentido, a
Bíblia preserva com exatidão, em forma escrita, seu antigo
ambiente cultural. Os pormenores das histórias bíblicas não
são o produto fantasioso da imaginação dum autor, mas, antes,
são reflexos autênticos do mundo no qual ocorreram os eventos
registrados, desde os mundanos até os miraculosos." — The
Archaeological Encyclopedia of the Holy
Land (A Enciclopédia Arqueológica da Terra Santa).
O
Que a Arqueologia Pode
e o Que Não Pode
Fazer
"A arqueologia
nem prova nem refuta a Bíblia em termos conclusivos, mas ela tem
outras funções de considerável importância. Recupera em certo
grau o mundo material pressuposto pela Bíblia. Conhecer, digamos,
o material com que se construía uma casa, ou como era um ‘alto’,
aumenta em muito nosso entendimento do texto. Em segundo lugar,
preenche as lacunas do registro histórico. A Pedra Moabita, por
exemplo, apresenta o outro lado da história tratada em
2 Reis 3:4ss. . . . Em terceiro lugar, revela a
vida e o pensamento dos vizinhos do antigo Israel — o que já em
si é de interesse, e que ilumina o mundo de idéias, dentro do
qual se desenvolveu o pensamento do antigo Israel." — Ebla—A
Revelation in Archaeology (Ebla — Uma
Revelação em Arqueologia).