HOME > CULTOS/RELIGIÕES >
CRISTIANISMO >
BÍBLIA
O
livro de Daniel em julgamento
IMAGINE que você esteja
num tribunal, presenciando um importante julgamento. Um homem é
acusado de fraude. O promotor insiste em que o homem é culpado.
No entanto, o acusado já por muito tempo tem a reputação de ser
íntegro. Não estaria você interessado em ouvir a evidência
apresentada pela defesa?
Você
está numa situação similar quando se trata do livro bíblico de
Daniel. Seu escritor era um homem famoso pela sua integridade. O livro
que leva seu nome tem gozado de alta estima por milhares de anos.
Apresenta-se como História autêntica, escrita por Daniel, profeta
hebreu, que viveu durante o sétimo e o sexto século a.C..
A cronologia bíblica exata mostra que seu livro abrange o
período desde cerca de 618 até 536 a.C., e que estava terminado
nesta última data. Mas o livro é alvo de acusações. Algumas
enciclopédias e outras obras de referência dão a entender ou
afirmam diretamente que ele é uma fraude.
Por
exemplo, The New Encyclopædia Britannica
admite que o livro de Daniel era antigamente "de modo geral
considerado como história verídica, contendo profecia
genuína". A Britannica afirma que, na realidade,
porém, Daniel "foi escrito numa época posterior de crise
nacional — quando os judeus sofriam severa perseguição sob [o
rei sírio] Antíoco IV Epifânio". A enciclopédia data o
livro entre 167 e 164 a.C.. Esta mesma obra afirma que o escritor
do livro de Daniel não profetiza o futuro, mas simplesmente apresenta
"eventos que para ele são história passada como se fossem
profecias de acontecimentos futuros".
De
onde surgiram tais idéias? A crítica ao livro de Daniel não é
novidade. Ela começou lá no terceiro século, com um filósofo de
nome Porfírio. Assim como muitos outros no Império Romano, ele se
sentia ameaçado pela influência do cristianismo. Escreveu
15 livros para minar esta "nova" religião.
O 12.° foi dirigido contra o livro de Daniel. Porfírio declarou
que o livro era uma falsificação, escrita por um judeu no segundo
século a.C.. Ataques similares surgiram nos séculos
18 e 19. No conceito dos altos críticos e dos
racionalistas, profetizar — predizer eventos futuros — é
impossível. Daniel tornou-se um alvo favorito. Na realidade, ele e
seu livro foram levados a julgamento em tribunal. Os críticos
afirmavam ter ampla prova de que o livro não fora escrito por Daniel
durante o exílio dos judeus em Babilônia, mas por outra pessoa
séculos mais tarde. Esses ataques tornaram-se tão profusos, que um
autor até mesmo escreveu uma defesa, chamada de Daniel in
the Critics’ Den (Daniel na Cova dos
Críticos).
Há
alguma prova para as afirmações confiantes dos críticos? Ou é a
defesa apoiada pela evidência? Há muito envolvido nisso. Não se
trata apenas da reputação deste livro antigo, mas envolve também o
nosso futuro. Se o livro de Daniel for uma fraude, então suas
promessas quanto ao futuro da humanidade, no melhor dos casos, são
apenas palavras ao vento. Mas, se contiver profecias genuínas,
então, sem dúvida, você estará ansioso de saber o que elas
significam para nós hoje em dia. Com isso em mente, examinemos alguns
dos ataques lançados contra Daniel.
Por
exemplo, veja a acusação feita em The Encyclopedia Americana:
"Muitos pormenores históricos dos períodos anteriores [tais
como o do exílio babilônico] foram grandemente distorcidos" em
Daniel. Será que é mesmo assim? Consideremos três dos alegados
erros, um por vez.
O
CASO DO MONARCA QUE FALTA
Daniel
escreveu que Belsazar, um "filho" de Nabucodonosor,
governava como rei em Babilônia quando a cidade foi derrubada.
(Daniel 5:1, 11, 18, 22, 30) Os críticos por muito tempo
atacaram este ponto porque o nome de Belsazar não era encontrado em
parte alguma fora da Bíblia. Mas, historiadores antigos identificavam
Nabonido, um sucessor de Nabucodonosor, como o último dos reis
babilônicos. Neste respeito, em 1850, Ferdinand Hitzig disse que
Belsazar obviamente era produto da imaginação do escritor. Mas, não
lhe parece que a opinião de Hitzig é um pouco precipitada? Afinal,
será que não se mencionar este rei — especialmente num
período sobre o qual os registros históricos admitidamente eram
escassos — prova realmente que ele nunca existiu? De
qualquer modo, em 1854 desenterraram-se alguns pequenos cilindros de
argila nas ruínas da antiga cidade babilônica de Ur, no que agora é
o sul do Iraque. Esses documentos cuneiformes, do Rei Nabonido,
incluíam uma oração a favor de "Bel-sar-ussur, meu filho mais
velho". Até mesmo os críticos tiveram de concordar: este era o
Belsazar do livro de Daniel.
No
entanto, os críticos não ficaram satisfeitos. "Isto não prova
nada", escreveu um deles, de nome H. F. Talbot. Ele
levantou a acusação de que o filho mencionado nesta inscrição
podia ter sido apenas uma criança, ao passo que Daniel o apresenta
como rei reinante. No entanto, apenas um ano depois de se publicarem
as observações de Talbot, desenterraram-se mais tabuinhas
cuneiformes, que se referiam a Belsazar como tendo secretários e
domésticos. Portanto, ele não era uma criança! Por fim, outras
tabuinhas remataram o assunto, relatando que Nabonido passava anos a
fio fora de Babilônia. Estas tabuinhas mostravam também que, durante
esses períodos, ele ‘confiava o reinado’ de
Babilônia ao seu filho mais velho (Belsazar). Nessas épocas,
Belsazar era na realidade o rei — co-regente de seu pai.
Alguns
críticos, ainda insatisfeitos, queixam-se de que a Bíblia não chama
a Belsazar de filho de Nabonido, mas sim de Nabucodonosor. Alguns
insistem em que Daniel nem mesmo faz alusão à existência de
Nabonido. No entanto, ambas as objeções não resistem a exame.
Parece que Nabonido casou-se com a filha de Nabucodonosor. Isto faria
de Belsazar o neto de Nabucodonosor. Nem a língua hebraica nem a
aramaica têm palavras para "avô" ou "neto";
"filho de" pode significar "neto de" ou mesmo
"descendente de". (Note Mateus 1:1.) Além disso, o relato
bíblico permite a identificação de Belsazar como filho de Nabonido.
Quando a ominosa escrita à mão na parede aterrorizou o desesperado
Belsazar, ele ofereceu o terceiro lugar no reino a quem
soubesse decifrar as palavras. (Daniel 5:7) Por que o terceiro e não
o segundo? Esta oferta dá a entender que o primeiro e o segundo lugar
já estavam ocupados. E realmente estavam — por Nabonido e
por seu filho, Belsazar.
De
modo que a menção de Belsazar por Daniel não é evidência de
história ‘muito distorcida’. Ao contrário, Daniel — embora
não escrevesse a história de Babilônia — fornece uma visão
mais detalhada da monarquia babilônica do que os antigos
historiadores seculares, tais como Heródoto, Xenofonte e Beroso. Por
que conseguiu Daniel registrar fatos que lhes escaparam? Porque ele
estava lá em Babilônia. Seu livro é obra duma testemunha ocular,
não dum impostor de séculos posteriores.
QUEM
ERA DARIO, O MEDO?
Daniel
relata que, quando Babilônia foi derrubada, começou a governar um
rei chamado "Dario, o medo". (Daniel 5:31) Ainda não se
encontrou o nome de Dario, o medo, em fontes seculares ou
arqueológicas. De modo que The New Encyclopædia
Britannica afirma que este Dario é "um personagem
fictício".
Alguns
eruditos foram mais cautelosos. Afinal, os críticos também chamavam
antes a Belsazar de "fictício". Sem dúvida, o caso de
Dario mostrará ser similar. Tabuinhas cuneiformes já revelaram que
Ciro, o persa, não assumiu logo após a conquista o título de
"Rei de Babilônia". Um pesquisador sugere: "Quem quer
que levasse o título de ‘Rei de Babilônia’ era um rei vassalo
sob Ciro, não o próprio Ciro." Poderia ter sido Dario o nome ou
título de governante dum poderoso oficial medo, encarregado de
Babilônia? Alguns sugerem que Dario pode ter sido um homem chamado
Gubaru. Ciro empossou Gubaru como governador em Babilônia, e
registros seculares confirmam que ele governou com considerável
poder. Uma tabuinha cuneiforme diz que ele nomeou subgovernadores de
Babilônia. É interessante notar que Daniel menciona que Dario
designou 120 sátrapas para governarem o reino de Babilônia. — Daniel 6:1.
Com o
tempo talvez surja mais evidência direta da identidade exata deste
rei. De qualquer modo, o aparente silêncio da arqueologia neste
respeito dificilmente é motivo para classificar Dario de
"fictício", e muito menos para rejeitar todo o livro de
Daniel como fraudulento. É muito mais razoável encarar o relato
de Daniel como o de uma testemunha ocular com mais pormenores do que
os registros seculares que sobreviveram.
O
REINADO DE JEOIAQUIM
14
Daniel 1:1 reza: "No terceiro ano do reinado de Jeoiaquim, rei de
Judá, chegou a Jerusalém Nabucodonosor, rei de Babilônia, e passou
a sitiá-la." Os críticos têm questionado este texto, porque
não parece concordar com Jeremias, que diz que o quarto ano de
Jeoiaquim foi o primeiro ano de Nabucodonosor. (Jeremias 25:1;
46:2) Contradizia Daniel a Jeremias? Com mais informações, este
assunto é logo esclarecido. Quando Jeoiaquim pela primeira vez foi
constituído rei pelo Faraó Neco, em 628 a.C., ele se tornou um
fantoche daquele governante egípcio. Isto foi cerca de três anos
antes de Nabucodonosor suceder a seu pai no trono de Babilônia, em
624 a.C.. Logo depois (em 620 a.C.), Nabucodonosor invadiu
Judá e fez de Jeoiaquim um rei vassalo sob Babilônia. (2 Reis
23:34; 24:1) Para o judeu que vivesse em Babilônia, o "terceiro
ano" de Jeoiaquim seria o terceiro ano de serviço deste rei como
vassalo de Babilônia. Daniel escreveu deste ponto de vista. Jeremias,
porém, escreveu do ponto de vista dos judeus que moravam lá em
Jerusalém. De modo que se referiu ao reinado de Jeoiaquim como tendo
começado quando Faraó Neco o fez rei.
15
Realmente, pois, esta alegada discrepância só aumenta a evidência
de que Daniel escreveu seu livro em Babilônia, enquanto estava entre
os judeus exilados. Mas há outra grande lacuna neste argumento contra
o livro de Daniel. Lembre-se de que é evidente que o escritor de
Daniel tinha disponível o livro de Jeremias e até mesmo recorreu a
ele. (Daniel 9:2) Se o escritor de Daniel fosse um falsificador
engenhoso, conforme os críticos afirmam, será que ele se arriscaria
a contradizer uma fonte tão respeitada como Jeremias — e isso
logo no primeiro versículo do seu livro? Claro que não!
PORMENORES
REVELADORES
16
Deixemos agora de lado os pontos negativos e enfoquemos os positivos.
Considere alguns outros pormenores no livro de Daniel, que indicam que
o escritor tinha conhecimento de primeira mão dos tempos sobre os
quais escreveu.
17
A familiaridade de Daniel com pormenores sutis, referentes à antiga
Babilônia, é evidência convincente da autenticidade do seu relato.
Por exemplo, Daniel 3:1-6 relata que Nabucodonosor mandou erigir uma
enorme imagem para ser adorada por todo o povo. Arqueólogos têm
encontrado outras evidências de que este monarca procurava envolver
mais o seu povo em práticas nacionalistas e religiosas. De forma
similar, Daniel registra a atitude jactanciosa de Nabucodonosor
referente aos seus muitos projetos de construção. (Daniel 4:30) É
só nos tempos modernos que os arqueólogos têm confirmado que
Nabucodonosor, de fato, foi responsável por muitas das construções
feitas em Babilônia. Quanto à jactância — ora, o homem
mandou que seu nome fosse estampado nos próprios tijolos! Os
críticos de Daniel não conseguem explicar como seu suposto
falsificador da época dos macabeus (167-63 a.C.) podia ter
sabido de tais projetos de construção — uns quatro séculos
depois destes e muito antes de os arqueólogos os terem trazido à
luz.
18
O livro de Daniel revela também algumas diferenças básicas entre a
lei babilônica e a medo-persa. Por exemplo, sob a lei babilônica, os
três companheiros de Daniel foram lançados numa fornalha ardente por
se recusarem a obedecer à ordem do rei. Décadas mais tarde, Daniel
foi lançado numa cova de leões por se negar a obedecer a uma lei
persa, que violava a sua consciência. (Daniel 3:6; 6:7-9) Alguns têm
tentado rejeitar o relato da fornalha ardente afirmando ser uma lenda,
mas arqueólogos encontraram até uma carta da antiga Babilônia que
menciona especificamente esta forma de punição. Para os medos e para
os persas, porém, o fogo era sagrado. De modo que recorriam a outras
formas horrendas de punição. Por isso, a cova dos leões não é
surpresa.
19
Surge outro contraste. Daniel mostra que Nabucodonosor podia criar e
mudar leis à vontade. Dario não podia fazer nada para mudar ‘as
leis dos medos e dos persas’ — nem mesmo as decretadas por
ele! (Daniel 2:5, 6, 24, 46-49; 3:10, 11, 29; 6:12-16)
O historiador John C. Whitcomb escreve:
"A história antiga confirma esta diferença entre a
Babilônia, onde a lei estava sujeita ao rei, e a Medo-Pérsia, onde o
rei estava sujeito à lei."
20
O relato emocionante sobre a festa de Belsazar, registrado no
capítulo 5 de Daniel, é rico em pormenores. Pelo visto,
começou com uma animada refeição e bastante bebida, pois há
diversas referências a vinho. (Daniel 5:1, 2, 4) Deveras,
entalhes em relevo de festas similares mostram apenas o consumo de
vinho. Aparentemente, o vinho era então extremamente importante em
tais festividades. Daniel menciona também que havia mulheres
presentes neste banquete — as esposas secundárias e as
concubinas do rei. (Daniel 5:3, 23) Os arqueólogos confirmam
este pormenor do costume babilônico. A idéia de esposas
participarem com homens numa festividade era objetável aos judeus e
aos gregos na era macabéia. Este talvez seja o motivo de as primeiras
versões da tradução de Daniel na Septuaginta grega omitirem
a menção dessas mulheres. No entanto, o suposto falsificador do
livro de Daniel teria vivido na mesma cultura helenizada (grega), e
talvez até mesmo durante a mesma era, em que se produziu a Septuaginta!
21
Em vista desses pormenores, parece quase incrível que a Britannica
descreva o autor do livro de Daniel como tendo apenas um conhecimento
"limitado e inexato" dos tempos do exílio. Como poderia
qualquer falsificador de séculos posteriores ter tido tanta
familiaridade com os antigos costumes babilônicos e persas? Lembre-se
também de que ambos os impérios entraram em declínio muito antes do
segundo século a.C.. Evidentemente, lá naquele tempo não havia
nenhum arqueólogo; nem se orgulhavam os judeus daquela época de ter
conhecimento de culturas e história estrangeiras. Somente Daniel, o
profeta, testemunha ocular dos tempos e dos eventos que descreveu,
pode ter escrito o livro bíblico que leva o seu nome.
HÁ
PROVAS EXTERNAS DE QUE DANIEL SEJA
UMA FALSIFICAÇÃO?
22
Um dos argumentos mais comuns contra o livro de Daniel envolve seu
lugar no cânon das Escrituras Hebraicas. Os rabinos antigos
organizaram os livros das Escrituras Hebraicas em três grupos: a Lei,
os Profetas e os Escritos. Não alistaram Daniel entre os Profetas,
mas entre os Escritos. Isto significa, argumentam os críticos, que o
livro não deve ter sido conhecido na época em que as obras dos
outros profetas foram compiladas. Foi agrupado entre os Escritos
supostamente porque esses foram compilados mais tarde.
23
No entanto, nem todos os pesquisadores da Bíblia concordam que os
rabinos antigos tenham dividido o cânon de tal maneira rígida ou que
tenham excluído Daniel dos Profetas. Não obstante, mesmo que os
rabinos tenham alistado Daniel entre os Escritos, provaria isso que
foi escrito numa data posterior? Não. Eruditos de boa reputação
têm sugerido várias razões pelas quais os rabinos talvez tivessem
excluído Daniel dos Profetas. Por exemplo, talvez o tivessem feito
porque o livro os ofendia ou porque achavam que o próprio Daniel era
diferente dos outros profetas, por ter ocupado um cargo secular num
país estrangeiro. De qualquer modo, o que realmente importa é:
os judeus antigos tinham profundo respeito pelo livro de Daniel e o
consideravam canônico. Além disso, a evidência sugere que o cânon
das Escrituras Hebraicas foi encerrado muito antes do segundo
século a.C.. Simplesmente não se permitiram acréscimos
posteriores, nem de alguns livros escritos durante o segundo
século a.C..
24
É irônico que uma dessas obras posteriores, rejeitada, tenha
sido usada como argumento contra o livro de Daniel. O livro
apócrifo de Eclesiástico, de Jesus Ben Sirac, evidentemente foi
composto por volta de 180 a.C.. Os críticos gostam de salientar
que Daniel é omitido na longa lista de homens justos no livro.
Argumentam que Daniel não deve ter sido conhecido na época. Este
argumento é amplamente aceito entre eruditos. Mas, considere o
seguinte: a mesma lista omite Esdras e Mordecai (ambos grandes
heróis aos olhos dos judeus pós-exílicos), o bom Rei Jeosafá e o
homem reto, Jó; de todos os juízes, menciona apenas Samuel. Visto
que esses homens são omitidos numa lista que não afirma ser
exaustiva, ocorrendo num livro não-canônico, será que temos de
rejeitar a todos eles como fictícios? A mera idéia disso é
absurda.
TESTEMUNHO
EXTERNO EM FAVOR DE DANIEL
25
Voltemos de novo a atenção para os pontos positivos. Sugeriu-se que
nenhum outro livro das Escrituras Hebraicas é tão bem atestado como
o de Daniel. Para ilustrar isso: Josefo, o famoso historiador judeu,
atesta a sua autenticidade. Ele diz que Alexandre, o Grande, durante a
guerra contra a Pérsia, no quarto século a.C., veio a
Jerusalém, onde os sacerdotes lhe mostraram uma cópia do livro de
Daniel. O próprio Alexandre chegou à conclusão de que as
palavras da profecia de Daniel, que lhe foram mostradas, referiam-se
à sua campanha militar envolvendo a Pérsia. Isso teria sido cerca de
um século e meio antes da "falsificação" sugerida pelos
críticos. Naturalmente, os críticos têm atacado Josefo referente a
esta passagem. Também o atacam por ele ter mencionado que algumas
profecias no livro de Daniel se cumpriram. No entanto, conforme
observou o historiador Joseph D. Wilson, "[Josefo] provavelmente
sabia mais sobre o assunto do que todos os críticos do mundo".
26
A autenticidade do livro de Daniel recebeu ainda mais apoio com a
descoberta dos Rolos do Mar Morto nas cavernas de Qumran, em Israel.
O que surpreende é que numerosos rolos e fragmentos entre os
achados, descobertos em 1952, são do livro de Daniel. O mais
antigo foi datado do fim do segundo século a.C.. Portanto, já
naquela época, o livro de Daniel era bem conhecido e amplamente
respeitado. The Zondervan Pictorial Encyclopedia
of the Bible (A Enciclopédia Pictórica da
Bíblia, da Zondervan) observa: "A datação macabéia de
Daniel tem de ser abandonada agora, nem que seja por ser impossível
que tenha havido um intervalo suficiente entre a composição de
Daniel e seu aparecimento na forma de cópias na biblioteca duma seita
religiosa dos macabeus."
27
No entanto, há uma confirmação muito mais antiga e mais confiável
para o livro de Daniel. Um dos contemporâneos de Daniel foi o profeta
Ezequiel. Ele também serviu como profeta durante o exílio
babilônico. O livro de Ezequiel menciona diversas vezes a Daniel
por nome. (Ezequiel 14:14, 20; 28:3) Estas referências mostram
que, mesmo durante a sua vida, no sexto século a.C., Daniel já
era bem conhecido como homem justo e sábio, digno de ser mencionado
ao lado de Noé e de Jó, que temiam a Deus.
O
MAIOR TESTEMUNHO
28
No entanto, consideremos por fim a maior de todas as testemunhas da
autenticidade de Daniel — o próprio Jesus Cristo. Na sua
consideração dos últimos dias, Jesus menciona "Daniel, o
profeta", e uma das profecias de Daniel. — Mateus 24:15;
Daniel 11:31; 12:11.
29
Então, se a teoria macabéia dos críticos fosse correta, uma de duas
coisas teria de ser verdade: ou Jesus foi enganado por esta
falsificação, ou ele nunca disse o que Mateus atribui a ele. Nenhuma
dessas opções é viável. Se não pudermos confiar no relato
evangélico de Mateus, então como podemos confiar nas outras partes
da Bíblia? Se retirarmos essas sentenças, quais são as outras
palavras que tiraremos a seguir das páginas das Escrituras Sagradas?
O apóstolo Paulo escreveu: "Toda a Escritura
é inspirada por Deus e proveitosa para ensinar, . . . para
endireitar as coisas." (2 Timóteo 3:16) Portanto, se Daniel
foi uma fraude, então Paulo foi outra! Será que Jesus foi enganado?
De forma alguma. Estava vivo no céu quando se escreveu o livro de
Daniel. Jesus até mesmo disse: "Antes de Abraão vir à
existência, eu tenho sido." (João 8:58) Dentre todos os humanos
que já viveram, Jesus seria a pessoa mais indicada para dar
informações sobre a autenticidade de Daniel. Mas não precisamos
perguntar. Conforme já vimos, o testemunho dele não poderia ser mais
claro.
30
Jesus autenticou adicionalmente o livro de Daniel na própria ocasião
do seu batismo. Ele se tornou então o Messias, cumprindo uma profecia
em Daniel a respeito das 69 semanas de anos. (Daniel
9:25, 26; veja o Capítulo 11 deste livro.) Mesmo que fosse
verdade que, segundo a teoria, Daniel foi escrito mais tarde, o
escritor de Daniel ainda sabia o futuro com uns 200 anos de
antecedência. Naturalmente, Deus não inspiraria um falsificador para
proferir profecias verdadeiras sob um nome falso. Não, o testemunho
de Jesus é aceito sinceramente por aqueles que são fiéis a Deus. Se
todos os peritos, todos os críticos do mundo, fossem unânimes em
denunciar a Daniel, o testemunho de Jesus mostraria que estão
errados, porque ele é "a testemunha fiel e verdadeira". — Revelação
(Apocalipse) 3:14.
31
Para muitos críticos da Bíblia, nem mesmo este testemunho basta.
Depois de considerarmos cabalmente este assunto, não podemos deixar
de nos perguntar se qualquer montante de evidência os
convenceria. Um professor da Universidade de Oxford escreveu:
"Nada se ganha com uma mera resposta a objeções, enquanto
persistir o preconceito original, de que ‘não pode haver profecia
sobrenatural’." De modo que o preconceito os cega. Mas esta é
a escolha — e a perda — deles.
32
Que dizer de você? Se puder compreender que não há nenhum motivo
válido para se duvidar da autenticidade do livro de Daniel, então
está pronto para uma empolgante viagem de descobertas. Achará
emocionantes as narrativas de Daniel, e fascinantes as profecias.
O que é mais importante, verá a sua fé aumentar a cada
capítulo. Nunca lamentará ter prestado detida atenção à profecia
de Daniel!
[Nota(s)
de rodapé]
Alguns críticos
procuram moderar a acusação de falsificação por dizer que o
escritor usou Daniel como pseudônimo, assim como alguns dos antigos
livros não-canônicos foram escritos sob nomes fictícios. No
entanto, Ferdinand Hitzig, crítico da Bíblia, afirmou:
"O caso do livro de Daniel, se for atribuído a outro
[escritor], é diferente. Neste caso, torna-se uma escrita
falsificada, e a intenção era enganar os leitores imediatos dele,
mesmo que para o bem deles."
Nabonido estava
ausente quando Babilônia caiu. De modo que Belsazar é corretamente
descrito como o rei naquela época. Os críticos objetam, dizendo
que os registros seculares não atribuem a Belsazar o título
oficial de rei. No entanto, evidência antiga sugere que mesmo um
governador pode ter sido chamado de rei pelo povo naqueles dias.
O hebraísta
C. F. Keil escreve a respeito de Daniel 5:3:
"A LXX omitiu aqui, e também no v. 23, a menção de
mulheres, segundo o costume dos macedônios, dos gregos e dos
romanos."
A lista inspirada do
apóstolo Paulo, de homens e mulheres fiéis, mencionada em Hebreus,
capítulo 11, em contraste, parece aludir aos acontecimentos
registrados em Daniel. (Daniel 6:16-24; Hebreus 11:32, 33) No
entanto, a lista do apóstolo tampouco é exaustiva. Há muitos,
inclusive Isaías, Jeremias e Ezequiel, que não constam na lista,
mas isso dificilmente prova que eles nunca existiram.
Alguns historiadores
mencionaram que isso explicaria por que Alexandre foi tão bondoso
para com os judeus, que eram de longa data amigos dos persas.
Naquela época, Alexandre estava numa campanha para destruir todos
os amigos da Pérsia.
O
QUE DISCERNIU?
• De que foi
acusado o livro de Daniel?
• Por que não
são bem fundados os ataques dos críticos contra o livro de Daniel?
• Que
evidência apóia a autenticidade do relato de Daniel?
• Qual é a
prova mais convincente de que o livro de Daniel é autêntico?
[Perguntas
de Estudo]
1, 2. Em que
sentido é o livro de Daniel alvo de acusações, e por que acha
você importante considerar a evidência em defesa dele?
3. O
que diz The New Encyclopædia Britannica
a respeito da autenticidade do livro de Daniel?
4.
Quando começou a surgir crítica ao livro de Daniel, e o que
estimulou um criticismo similar nos séculos mais recentes?
5. Por
que é importante a questão da autenticidade de Daniel?
6. Que
acusação se lança às vezes contra a história contida em
Daniel?
7. (a)
Por que as referências de Daniel a Belsazar por muito tempo
agradaram aos críticos da Bíblia? (b) O que aconteceu com a
idéia de que Belsazar era apenas um personagem fictício?
8. Como
foi provada veraz a descrição de Belsazar por Daniel, de que ele
era rei reinante?
9. (a)
Em que sentido Daniel talvez chamasse a Belsazar de filho de
Nabucodonosor? (b) Por que erram os críticos ao afirmar que
Daniel nem mesmo faz alusão à existência de Nabonido?
10. Por que é
o relato de Daniel sobre a monarquia babilônica mais detalhado do
que o de outros historiadores antigos?
11. Segundo
Daniel, quem era Dario, o medo, mas o que se tem dito a respeito
dele?
12. (a) Por
que deveriam os críticos da Bíblia saber que não podem declarar
categoricamente que Dario, o medo, nunca existiu? (b) Qual é
uma possibilidade a respeito da identidade de Dario, o medo, e que
evidência indica isso?
13. Qual é
uma razão lógica de Dario, o medo, ser mencionado no livro de
Daniel, mas não em registros seculares?
14. Por que
não há nenhuma discrepância entre Daniel e Jeremias quanto aos
anos do reinado do Rei Jeoiaquim?
15. Por que é
fraco o argumento que ataca a datação encontrada em
Daniel 1:1?
16, 17. Como
tem apoiado a evidência arqueológica o relato de Daniel sobre
(a) Nabucodonosor erigir uma imagem religiosa para todo o seu
povo adorar, e (b) a atitude jactanciosa de Nabucodonosor
referente aos seus projetos de construção em Babilônia?
18. Como
mostra ser exato o relato de Daniel a respeito das formas
diferentes de punição sob o domínio babilônico e sob o
domínio persa?
19. Que
contraste entre os sistemas jurídicos babilônico e medo-persa se
torna claro no livro de Daniel?
20. Que
pormenores a respeito da festa de Belsazar mostram que Daniel
tinha conhecimento de primeira mão dos costumes babilônicos?
21. Qual é a
explicação mais razoável de Daniel ter tido profundo
conhecimento dos tempos e dos costumes no exílio babilônico?
22. Que
afirmação fazem os críticos a respeito do lugar de Daniel no
cânon das Escrituras Hebraicas?
23. Como era o
livro de Daniel encarado pelos judeus antigos, e como sabemos
isso?
24. Como foi o
livro apócrifo de Eclesiástico usado contra o livro de Daniel, e
o que mostra que tal argumento é falho?
25. (a) Como
atestou Josefo a genuinidade do relato de Daniel? (b) Em que
sentido se enquadra na História conhecida o relato de Josefo a
respeito de Alexandre, o Grande, e o livro de Daniel? (Veja a
segunda nota de rodapé.) (c) Como é o livro de Daniel
apoiado pela evidência lingüística? (Veja página 26.)
26. Como os
Rolos do Mar Morto têm apoiado a autenticidade do livro de
Daniel?
27. Qual é a
evidência mais antiga de que Daniel era uma pessoa real, bem
conhecida durante o exílio babilônico?
28, 29. (a)
Qual é a prova mais convincente de todas, de que o livro de
Daniel é autêntico? (b) Por que devemos aceitar o
testemunho de Jesus?
30. Como é
que Jesus autenticou adicionalmente o livro de Daniel?
31. Por que
continuam muitos críticos da Bíblia sem se convencer da
autenticidade de Daniel?
32. O que nos
aguarda no estudo de Daniel?
[Fotos
na página 20]
(Em cima) Esta
inscrição contém a jactância de Nabucodonosor a respeito dos seus
projetos de construção
(Embaixo) Cilindro de
templo babilônico, que menciona o Rei Nabonido e seu filho Belsazar
[Foto
na página 21]
Segundo a Crônica de
Nabonido, o exército de Ciro entrou em Babilônia sem luta
[Fotos
na página 22]
(À direita)
O "Relato Versificado de Nabonido" conta que Nabonido
confiou o governo ao seu primogênito
(À esquerda) Registro
babilônico da invasão de Judá por Nabucodonosor
[Gravura
de página inteira na página 12]
[Quadro
na página 26]
A
questão da língua
A ESCRITA do livro de
Daniel foi concluída por volta de 536 a.C.. Foi escrito na
língua hebraica e na aramaica, com umas poucas palavras gregas e
persas. Esta mistura de línguas é incomum, mas não sem precedentes
nas Escrituras. O livro bíblico de Esdras também foi escrito em
hebraico e em aramaico. No entanto, alguns críticos insistem em dizer
que o escritor de Daniel usou estas línguas dum modo que prova que
ele escreveu numa data posterior a 536 a.C.. Um crítico,
amplamente citado, diz que o uso de palavras gregas em Daniel exige
uma data posterior para a escrita dele. Afirma que o hebraico apóia
tal data posterior e que o aramaico pelo menos a permite — mesmo
uma tão recente como o segundo século a.C..
No entanto, nem todos os
lingüistas concordam com isso. Algumas autoridades disseram que o
hebraico de Daniel é similar ao de Ezequiel e de Esdras, e diferente
do encontrado em obras apócrifas posteriores, tais como
Eclesiástico. Quanto a Daniel usar o aramaico, considere dois
documentos encontrados entre os Rolos do Mar Morto. Esses também
estão no aramaico e datam do primeiro e do segundo século a.C.
— pouco depois da suposta falsificação de Daniel. Mas os
eruditos notaram uma grande diferença entre o aramaico nestes
documentos e o encontrado em Daniel. De forma que alguns sugerem que o
livro de Daniel deve ser séculos mais velho do que seus críticos
afirmam.
Que dizer das
"problemáticas" palavras gregas em Daniel? Descobriu-se que
algumas delas são persas, e de forma alguma gregas! As únicas
palavras ainda consideradas gregas são os nomes de três instrumentos
musicais. Será que a presença dessas três palavras realmente exige
que se atribua a Daniel uma data posterior? Não. Arqueólogos
descobriram que a cultura grega já exercia influência séculos antes
de a Grécia se tornar potência mundial. Além disso, se o livro de
Daniel tivesse sido escrito durante o segundo século a.C.,
quando a cultura e a língua grega predominavam, será que conteria apenas
três palavras gregas? Dificilmente. É provável que
contivesse muito mais. De modo que a evidência lingüística
realmente apóia a autenticidade de Daniel.
| |