Podemos
confiar na Bíblia? Uma resposta aos posts no Orkut
"O texto da Bíblia atual é o texto original?"
Este
texto é uma refutação às alegações de G (não vou citar
nome) na comunidade Estudos Biblicos
do Orkut. Seu texto está em preto e minhas
respostas em azul.
Alguns
trechos da Biblia que utilizamos não constavam dos originais, como,
por exemplo, Mateus 6:13. na minha versão "Revista e Corrigida
de João Ferreira de Almeida" está escrito: "E não nos
induzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, o
poder e a glória para sempre. Amém."
O texto desde "porque teu é o reino..." até "Amém."
não consta dos originais gregos. Na Bíblia em alemão de Lutero, há
uma observação de que esse fecho para a oração consta dos
manuscritos somente a partir no 2º século da nossa era. A edição
em inglês que tenho traz esse trecho entre colchetes. Como vocês vêem
esses trechos? Há muitos outros. São palavra de Deus? Os pastores
deveriam comentar esse fato para seu rebanho?
Assim
G começa seu discurso no Orkut. G parece ter um certo interesse em
semear dúvidas na cabeça dos leitores, desejando dizer se "a
Palavra de Deus é a mesma que temos?". Para saber mais, veja
este link. Mas vamos responder ao G.
Realmente, e isto não é novidade para nós, apologistas, o texto em
questão (chamado por nós de Doxologia) no final da oração do
Pai-Nosso é uma adição posterior, como bem explica o erudito de
grego A.T. Robertson:
A Doxologia é
colocada na margem da Versão Revisada. Está ausente nos mais
antigos e melhores manuscritos gregos. As formas mais primitivas variam muito, algumas
menores, algumas mais longas que o da Versão Autorizada. O uso de uma doxologia surgiu quando esta oração começou a ser usada como uma liturgia a ser recitada ou ser
cantada na adoração pública. Não era uma parte original da Oração
do Pai-Nosso como dado por Jesus.
Portanto, nada de
mais. G parece querer pôr dúvidas nas pessoas, talvez dizendo que a
Palavra de Deus foi corrompida e por isso não confiável. Mas isto
não é o caso. A Doxologia é um acréscimo posterior e não fazia
parte do texto original. O que G deixa sutilmente de dizer e ocultando
dos leitores, é que existem dois tipos básicos de textos de onde
provêm nossas Bíblias: o Texto Recebido/TR (usado pela Almeida
Corrigida e Fiel) e o Texto Crítico/TC (usado por versões como Bíblia
de Jerusalém, TEB, etc.) O TR foi um texto compilado por Erasmo
de Roterdã, baseados em manuscritos gregos recentes enquanto os
manuscritos do TC, compilados por Westcott-Hort em 1881, são baseados
nos manuscritos mais antigos (Vaticano, Sinaítico, etc).
Pessoalmente, creio que as melhores versões em língua portuguesa
são a Bíblia de Jerusalém e a TEB. Das Almeidas, só
posso recomendar a Atualizada. Não recomendo para estudo a BLH
ou a NTLH.
O
Professor Kurt Aland, comentando a história do texto do Novo
Testamento e os resultados da moderna pesquisa textual, escreveu:
"É possível determinar, à base de 40 anos de experiência e
dos resultados que vieram à luz no exame de . . . manuscritos em pelo
menos 1.200 pontos de teste: O texto do Novo Testamento foi
transmitido de modo excelente, melhor do que quaisquer outros escritos
dos tempos antigos; a possibilidade de ainda se encontrarem
manuscritos que alterariam decisivamente seu texto é nula." — Das
Neue Testament — zuverlässig überliefert
(O Novo Testamento — Transmitido Fidedignamente), Stuttgart, 1986,
pp. 27, 28.
Lucas 1:28
Olha que furo. Fui conferir o texto acima antes de escrever aqui e
achei na tradução de João Ferreira de Almeida, REvista e
Corrigida,de 1969 o final "Bendita és tu entre as mulheres"
na fala do anjo que anunciava o nascimento de Cristo. Já na tradução
"Revista e Atualizada", do mesmo tradutor, editada no mesmo
ano de 1969 pela mesma editora, o trecho já não aparece. Não consta
do texto grego nem entre conchetes.
Furo?
Furo é você usar só a ARC e não explicar os outros do Orkut que
existem os dois tipos de texto, TR e TC (vai saber se ele sabe
disso!). De antemão, digo que a Almeida (a versão mais usada pelos
evangélicos brasileiros e uma tradução evidentemente protestante)
tem falhas de tradução, adições, elementos que não existem nas
versões TC. Minha versão, e a que recomendo, é a Bj e a
versão protestante, a Almeida Atualizada. No texto em
questão, os textos mais antigos realmente não tem "bendita és
tu entre as mulheres" em Lc.1.28, mas no v. 42! Isto que o
G fala não é falha do texto bíblico, mas do texto que ele escolheu,
no caso, o TR, que não é aceito pela maior parte dos eruditos. O que
me deixou impressionado foi a reação dos outros leitores do Orkut
que, infelizmente sem saberem dar resposta ao G, ficaram perturbados.
Mas agora não precisam mais, pois a resposta está dada.
Quem
escreveu Marcos 16:9-20?
O texto de Marcos 16:9-20 também não consta dos manuscritos mais
antigos e na maioria dos antigos manuscritos antigos, como o códex
Bobiensis em Latim Antigo e nos manuscritos armênios (quase cem!) e
nos manuscritos geórgicos até o final so século XIII não trazem
esse trecho.Depois do versículo 9 do capítulo 16, os textos mais
antigos passam diretamente para o versículo 20.
MISTÉRIO: Quem escreveu Marcos 16:9-20?
Evidentemente
este é um assunto que pode ter perturbado alguns, visto a reação.
Mas não é surpresa para mim. O caso de Marcos é bem conhecido pelos
críticos textuais. Alguns
têm achado que Marcos 16:8, que conclui com as palavras "e não
disseram nada a ninguém, pois estavam tomadas de temor", é
abrupto demais para ter sido a conclusão original deste Evangelho.
Todavia, não se precisa chegar a tal conclusão, em vista do estilo
geral de Marcos. Também, os eruditos Jerônimo e Eusébio, do quarto
século, concordam que o registro autêntico conclui com as palavras
"pois estavam tomadas de temor". — Jerônimo, carta 120,
pergunta 3, conforme publicada em Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum
Latinorum (Substância das Escrituras Eclesiásticas Latinas),
Viena e Leipzig, 1912, Vol. LV, p. 481; Eusébio, "Ad
Marinum", I, conforme publicado em Patrologia Græca
(Patrologia Grega), Paris, 1857, Vol. XXII, col. 937.
Existem diversos manuscritos e
versões que acrescentam uma conclusão longa ou uma curta após estas
palavras. A conclusão longa (que consiste em 12 versículos) se
encontra no Manuscrito Alexandrino, no Codex Ephraemi Syri rescriptus
e no Codex Bezae Cantabrigiensis. Ocorre também na Vulgata
latina, no Siríaco curetoniano e na Pesito siríaca. Mas é
omitido no Manuscrito Sinaítico, no Manuscrito Vaticano N.° 1209, no
códice Siríaco sinaítico e na Versão Armênia. Certos manuscritos
e versões posteriores contêm a conclusão curta. O Códice Regius,
do oitavo século EC, tem ambas as conclusões, apresentando primeiro
a conclusão curta. Prefacia cada conclusão com uma nota, dizendo que
estas passagens eram correntes em algumas partes, embora evidentemente
não reconheça nenhuma delas como de autoridade.
Edgar J. Goodspeed, tradutor
da Bíblia, comentando as conclusões longa e curta, observou: "A
Conclusão Curta se liga muito melhor com Marcos 16:8 do que a Longa,
mas nenhuma delas pode ser considerada como parte original do
Evangelho de Marcos." — The Goodspeed Parallel
New Testament (O Novo Testamento Paralelo, de
Goodspeed), 1944, p. 127.
Então, realmente, G está
certo, mas não explica tudo. Este trecho de Marcos foi um acréscimo
posterior, mas é preciso salientar o que eu expliquei acima.