As Curas
de Dr. Fritz
Por Cledson Ramos
É bastante incrível, e
muito mais lamentável ainda, que haja pessoas teimando em
acreditar nas "curas" do Dr. Fritz, ou melhor dos
"Doutores Fritz", já que o fantasminha camarada até
hoje não se decidiu qual o seu médium favorito. Ora, a entidade
"se incorpora" em fulano de tal, ora em beltrano, e por
aí vai. O mais incrível é a eficiência: considerando que os três
prediletos do Dr. Fritz no Brasil moram há quilômetros de distância
entre si, e atendem diariamente ao público, é de se ficar
imaginando como o bom fantasma faz para driblar estes obstáculos.
Nem mesmo o famoso "jeitinho brasileiro" chegaria
a tanto.
Igualmente intrigante é que,
apesar de tanta popularidade, ninguém saiba nada a respeito da
vida do famoso médico alemão: onde nasceu, em que cidades morou,
quem foram seus parentes, em que universidade se formou... Tudo o
que se sabe é isso: um alemão de nome Fritz, algo tão incomum
como um brasileiro de nome Francisco ou José. Nem mesmo
"Mister M" possui um passado tão bem escondido. Até a
vida do Salman Rushdie (autor de "Versos Satânicos" , e
que vive escondido temendo a fúria muçulmana) se apresenta mais
clara que a do nosso Dr. Fritz.
O pior é que,
ultimamente, quando aparece alguma notícia ligada a tão singular
figura é justamente nas páginas policiais. Observe-se, p. ex.,
esta reportagem extraída do "Jornal da Tarde" em 27 de
maio de 2000:
Se já é revoltante saber o quanto os médiuns
espíritas prejudicam suas vítimas com os crimes de
charlatanismo, exercício ilegal da medicina e lesão corporal,
muito pior é constatar casos como este, ou seja, em que paira uma
acusação de homicídio. Até que ponto estes indivíduos vão
continuar fugindo, ou usando de todo tipo de manobra judicial, é
também de deixar qualquer um indignado.
Caso fôssemos acrescentar aqui
também sobre o prejuízo para as almas, em seguir os preceitos
espíritas, pior ainda o resultado.
No entanto, vamos nos limitar a
uma simples pergunta: Por que a pobre Vanessa morreu ? A
reportagem mostra: porque que sofria de leucemia e parou o
tratamento tradicional, para ficar apenas recebendo os passes espíritas.
Terrível. Boa parte dos médiuns
espíritas não manda que o paciente pare o tratamento. Pelo contrário,
sugerem aqueles que o fiel continue seguindo as recomendações médicas,
mas que também receba alguns "passes" ou mesmo se
submeta a uma "cirurgia espiritual". Os motivos aqui são
óbvios: ainda que seja a medicina quem cure, sabe-se muito bem
quem é que recebe as glórias da vitória. Além disso, o médium
se arrisca menos.
Mas há um outro aspecto que
queremos destacar: a leucemia é uma doença essencialmente somática,
corporal, que atinge a produção de leucócitos (glóbulos
brancos).
Não se trata, portanto, de uma
doença psíquica, como uma neurose qualquer; ou mesmo de alguma
doença psico-somática, como certos tipos de úlcera.
Ora, quando o médium trata os
seus pacientes, o máximo que ele pode fazer é curar ou aliviar a
dor de algumas doenças destes dois últimos grupos (psíquica e
psico-somática). Tal se dá, não porque "baixe" algum
espírito, mas simplesmente por meio de um processo sugestivo que,
obviamente, não teve efeito sobre a medula e os leucócitos de
Vanessa.
A psicologia e a parapsicologia
são ricas em casos como este, em que o poder sugestivo do
paciente, seja oriundo dele mesmo ou de algum fator externo, pode
curar ou aliviar o seu sofrimento. É por isso que muitas vezes se
fala em tratamento médico por hipnose, embora haja várias questões
éticas envolvendo o tema. Nos piores tempos de crise da ex-URSS,
houve médicos que, por falta de anestesia, chegaram a hipnotizar
pacientes até para fazer cirurgias.
No entanto, a eficácia de tais
métodos por sugestão, como se pode notar, é restrito a certos
casos e, mesmo assim, nem sempre apresenta a segurança e o
resultado esperados.
Mas vejamos, por exemplo, o caso
de pessoas com problemas na coluna, tão comuns nos centros espíritas.
Via de regra, o máximo que o médium consegue aí é tirar a dor
do paciente. Se este possuir uma hérnia de disco ou mesmo outra
deformidade mais grave, continuará com ela, embora não sinta
mais dor. Tal situação é extremamente grave, pois, mais cedo ou
mais tarde, o organismo pode reagir e talvez seja tarde demais,
precisando o paciente se submeter a uma cirurgia (médica, e não
espírita) de última hora.
É por isso que não se vê, em
contrapartida, um médium espírita que trate sequer de uma
simples cárie dentária. De fato, ele pode até tirar a dor de
dente, mas a mancha preta continuará ali, denunciando que o serviço
não fora completo.
Mas, além de tudo, porque os médiuns
espíritas quando adoecem não procuram um de seus colegas para
receber os "passes" ?
Portanto, quando aparecer um
padre, pastor, médium ou quem quer que seja, propagando os seus
poderes de cura, sempre muito cuidado. Não precisamos de mais vítimas.
Ah, e caso alguém encontre o
Dr. Fritz por aí, peça-lhe que nos envie a biografia dele.
Mas se o encontro for apenas com
o médium Rubens de Faria, pode entregá-lo à Justiça mesmo.