À hora de falar sobre as origens das seitas e dos novos movimentos
religiosos, encontramos uma ampla gama de hipóteses que vão desde
as mais complexas até as mais simplistas, que reduzem toda a problemática
a uma simples questão econômica. Veremos a seguir, algumas dessas
hipóteses:
- Busca
da Verdade, do Transcendente e de Deus
Escuta-se dizer, às vezes com
certa freqüência no que diz respeito à origem destes movimentos,
que os mesmos surgem em razão de uma busca honesta da verdade, do transcendente,
ou de Deus.
Se bem este argumento não pode ser
de todo refutado, tampouco pode ser tomado com muita seriedade,
porque quem busca honestamente a verdade, o transcendente ou a Deus,
tende a inserir-se em alguma religião clássica ou tradicional.
Quer dizer, torna-se católico, judeu, ortodoxo, ou de alguma
comunidade protestante histórica, comunidades todas estas que, em
maior ou menor medida, possuem um aprofundamento do religioso,
apoiado no filosófico. E isto é o que precisamente falta a estes
novos movimentos, onde o discurso religioso em geral é gratuito e
obedece aos circunstanciais caprichos do fundador ou líder.
A razão mais freqüente para o
surgimento destes grupos é o desengano e a briga. Quer dizer, o
integrante de uma religião, movimento ou seita, briga com os
dirigentes de seu grupo, se separa com dois ou três fiéis, e cria
um novo culto.
Esta separação contestadora ,
provoca, geralmente, que o novo movimento tenda a isolar-se tentando
uma autonomia total e mantendo-se em relações dialéticas. As relações
dialéticas assumidas apresentam ao grupo como os custódios da
pureza doutrinal, manifestando uma forte rejeição à tudo o que é
exterior, como ser a sociedade, as instituições e, especialmente,
para aquela estrutura da qual se desprenderam, que por sua vez
costumam observar de maneira mais ou menos freqüente, componentes
de tipo paranóico em sua estrutura.
Assim mesmo, estas separações por
desengano e briga, geralmente vêem acompanhadas de revelações,
visões e mensagens especiais.
Freqüentemente veremos na origem destes
grupos, em que aparece ao fundador do mesmo Jesus Cristo, um anjo
ou, como agora se registra com mais freqüência, um Ovini, que lhe
transmite uma mensagem e uma missão particular.
Isto supõe, em mais de um caso e
especialmente vendo o conteúdo destas supostas mensagens e missões,
a possibilidade de certas alterações psicológicas, especialmente
uma variedade de demência conhecida com o nome de "psicose
Esquizoparanóica", que se caracteriza precisamente por
estar constituída de delírio de tipo religioso, místico, de influência
e megalomania, quer dizer um delírio desmedido de poder.
Se bem existem tantas visões e mensagens
como movimentos, encontramos de todas as maneiras uma insistência
em diversos temas, tais como a teoria do fracasso de Cristo, a traição
à mensagem original, a caducidade de todas as religiões clássicas
ou tradicionais.
- Teoria do fracasso
de Cristo
Este tipo de visões remetem a que
Cristo veio com uma missão ao mundo mas, ao não ser reconhecido
como o Messias por seu próprio povo judeu e ser crucificado,
fracassou. Então, o sujeito desta nova missão e mensagem, é
chamado a concluir a missão redentora de Cristo.
Tal argumento é o esgrimido pela Igreja
da Unificação (Moon), que tomando uma passagem bíblica onde diz
"um anjo surgirá do oriente", sustentam que o fundador e
atual líder do movimento, Sun Myung Moon, é o último e verdadeiro
Messias que vem cumprir a tarefa de restauração não alcançada
por Jesus Cristo.
Também, ainda que com algumas
variantes, este argumento é utilizado pela Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias ou Mormons, que sustentam que ao ter Cristo
fracassado na Palestina, aparece na América e estabelece em uma
tribo sua verdadeira Igreja.
- Traição
da mensagem original
Estas visões referem-se a que tal
ou qual religião, traiu a mensagem originalmente dada por Deus. O
que ocupa o primeiro lugar neste tipo de acusações é a Igreja Católica,
sendo este incluído o cargo que fizeram em seu momento Lutero e
Calvino por ocasião do cisma do ocidente.
Posteriormente, os sucessores de
Lutero e Calvino, fizeram o mesmo cargo a eles, e os seus sucessores
e os seus sucessores, desmembrando-se cada vez mais em mais grupos.
Talvez este seja o argumento mais esgrimido à hora das separações.
- Caducidade
das religiões clássicas ou tradicionais
As presentes visões remetem a que
todas as religiões clássicas ou tradicionais traíram a mensagem
original ou feneceram ficando tão somente alguns elementos ainda válidos
das diferentes religiões e juntá-los todos, surgindo assim os
movimentos sincretistas, quer dizer, aqueles que pegam elementos de
diversas origens e os amontoam, sem conseguir uma verdadeira síntese
ou fusão, mas somente misturando-os.
Este tipo de argumento foi o
utilizado por um movimento originado na Argentina que começou desenvolvendo
atividades sob a denominação "Igreja Evangélica Cristã
Judaica Ecumênica", e também pode ser observado na grande
maioria dos movimentos de caráter gnóstico, esotérico e ocultista.
- Origens com
finalidade política
Também escuta-se com certa freqüência,
sobre a origens das seitas, alegar-lhes uma finalidade exclusivamente
política ou econômica. Ouve-se falar, por exemplo, de seitas da
CIA ou de uma suposta penetração imperialista yankee na América
Latina, no que se refere à política; e de Bancos de Deus, Transnacionais
da Fé ou Multinacionais Religiosas, no que se refere ao econômico.
Frente a estes dois aspectos, é recomendável
a prudência, a fim de não cair em atitudes reducionistas ou
simplistas, impossíveis de sustentar em um tema tão complexo como
o presente.
No que diz respeito à questão política,
se bem que existiu um Documento Rockefeller e documentos Santa Fé I
e Santa Fé II, que fazem referência ao tema das seitas e Igreja
Católica, para uma apreciação objetiva não se pode deixar de
levar em conta dois aspectos importantes e que geralmente são descuidados.
O primeiro deles refere-se à noção
particular de que os Estados Unidos, de maioria protestante, tem
sobre a Igreja Católica. O protestantismo vê centrado suas origens
nas igrejas nacionais, com importante adesão política e suspeita,
que o mesmo poderia estar em todas as crenças. A esse respeito são
proverbiais os escritos e manifestações do outrora arcebispo de
Nova York, Fulton J. Sheen, sobre o tema.
O segundo, e não menos importante
que o anterior, refere-se a que tais documentos não falam da Igreja
Católica em geral, mas de certos setores da mesma. Concretamente aos
mais radicalizados dentro da "Teologia da Libertação", e
são precisamente estes setores dos quais mais têm esgrimido o argumento
de uma "suposta penetração imperialista na América Latina".
Sua objetividade a respeito é discutível, em razão de que está corrente
encontra-se também presa a uma ideologia.
Sobre o mencionado precedentemente
é de ressaltar um curioso paradoxo. A mesma consiste em que alguns
dos outrora maiores ideólogos da Teologia da Libertação, como por
exemplo o ex-franciscano brasileiro Leonardo Boff, deixaram o sacerdócio
e o celibato, e inseriram-se dentro da New Age ou Nova Era, a maior
tendência originária dos Estados Unidos. De todas as maneiras,
ainda que não se possa reduzir o fenômeno a uma questão política,
isto não quer dizer que tal aspecto não exista, registrando-se em
não poucas oportunidades certas conivências temporais, entre
alguns movimentos e governos, não só norte-americanos.
- Origens com
finalidade econômica
Por sua parte, no que faz à questão
econômica, um elemento que facilitou simplificar o tema, é a teologia
da prosperidade ou a teologia da abundância, à qual tantos
"televangelistas" são afetados, pregando constantemente
sobre o "progresso material", amém do espiritual, que
encontrarão todos aqueles que "entreguem o coração a Cristo".
A esse respeito é importante não
deixar de levar em conta que muitos destes grupos trazem consigo, elementos
calvinistas, e entre eles, o tema da predestinação. Quer dizer, a
crença de que desde o início de nossas vidas estaríamos predestinados
a ser salvos ou condenados.
Esta predestinação calvinista
gerou uma espécie de equação que poderia ser enunciada da
seguinte maneira: " a boa relação com Deus, implica um
triunfo econômico e, mais precisamente, o progresso material".
Isto que definíamos como a teologia da prosperidade, pode ser
observado no caráter dos testemunhos que diariamente os pentecostais
expressam nas praças, esquinas, programas de rádio e televisivos.
O êxito econômico e a ostentação
em alguns casos, de certos pastores, é utilizado muitas vezes como
um meio de proselitismo. Aos olhos destes, as igrejas erram o
caminho associando espiritualidade e pobreza, já que aos que têm fé,
Deus quer presenteá-los com riqueza, saúde e êxito.
É por isso que com palavras mais,
palavras menos, alguns destes pastores nos dizem: "Vejam como
estou bem, é porque entreguei o coração a Cristo. Entregue-o você
também, e gozará do mesmo êxito".
Já inclusive E. Durheim, falecido
depois da primeira década do século XX e que foi o primeiro a
utilizar as estatísticas em sociologia, efetuou interessantes
trabalhos a respeito das conseqüências sociais e econômicas que
provocaram as raízes calvinistas em países de maioria protestante.
Lamentavelmente pelas características
do presente trabalho não podemos abordar a tais pontos em profundidade,
mas podemos dizer que se bem existe o fator político e o fator econômico,
estes não são nem os únicos e nem os importantes, mas que se
inter-relacionam com muitos outros.
Se tivéssemos que buscar algum
objetivo último, deveria ser visto grupo por grupo. Em termos
gerais, poderíamos pensar em uma ânsia desmedida de poder. Agora
sim, o poder efetiva muito mais exitosamente por meio de contatos
políticos e recursos econômicos, mas estes encontram-se subordinados
a este delírio megalomaníaco. Em seu defeito, não se poderiam
entender casos como o da seita "Templo do Povo", liderada
por Jim Jones, quem, apesar de ter um grande poder político e econômico,
culminou com um suicídio coletivo em Guayana, em 1978.