Apêndice
B: "Vinda" ou "Presença" — O Que Revelam os
Fatos?
Carl
Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, de
The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias --
Quando?)
(Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang
Herbst, pp. 249-265.
Nota de Emerson: agradeço ao site www.geocities.com/osarsif
pela máteria
Na pergunta feita a Jesus em Mateus
capítulo vinte e quatro, versículo 3, "Qual será o sinal da
tua vinda," a palavra "vinda" traduz a palavra grega parousía.
Parousía significa primariamente "presença," mas
está hoje bem estabelecido que no tempo de Jesus também era usada
num sentido diferente. Apesar disto, a Watch Tower Society insiste
em "presença" como sendo o único significado bíblico
correcto do termo. Nisto eles têm claramente "segundas intenções."
A alegação feita por eles segundo
a qual a parousía de Cristo começou em 1914 e que desde
aquele ano temos visto o sinal disto nos acontecimentos mundiais
implica que os discípulos de Jesus perguntaram por um sinal
indicando que Cristo tinha vindo e estava invisivelmente presente,
não por um sinal que precederia a sua vinda e que indicasse
a iminência desta. Consequentemente a Tradução do Novo
Mundo das Escrituras Sagradas, da Sociedade, traduz a pergunta
em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, assim:
Diz-nos, Quando sucederão estas
coisas, e qual será o sinal da tua presença e da terminação
do sistema de coisas?
A ideia por detrás desta tradução
é que a segunda vinda de Cristo consiste em duas etapas, a primeira
sendo uma presença invisível por um período até à
segunda etapa, a da revelação final da sua presença ao mundo na
batalha do Armagedom. Esta ideia não se originou com a Watch Tower
Society. Remonta à década de 1820, quando foi primeiro sugerida
pelo bem conhecido banqueiro e expositor bíblico londrino Henry
Drummond, que se tornaria mais tarde um dos fundadores da Igreja
Católica Apostólica, de Edward Irving. A teoria da
"presença invisível" ou "vinda em duas
etapas," hoje melhor conhecida como a teoria do
"arrebatamento secreto," foi rapidamente aproveitada por
outros expositores de profecias. Foi adoptada não apenas pelos
Irvinguitas mas também pelos seguidores de John Nelson Darby, a Irmandade
de Plymouth, através da qual se espalhou
amplamente na Inglaterra, nos E.U.A. e noutros países. Tornou-se
muito popular especialmente entre os milenaristas, cristãos
que acreditavam num milénio literal, futuro, na terra.1
Para muitos dos defensores da ideia
da "vinda em duas etapas" a palavra grega parousía
tornou-se um ponto crucial na discussão. Era normalmente defendido
que esta palavra se referia à primeira etapa da vinda de Cristo, a
sua presença invisível "no ar." Era usual dizer que as
palavras gregas ephiphánia, "aparecer," e apokálypsis,
"revelação," por outro lado, aplicavam-se à segunda
etapa da vinda, a intervenção de Cristo em acontecimentos mundiais
na batalha do Armagedom. Modificar a tradução de parousía
de "vinda" para "presença" altera radicalmente
o sentido, não apenas da pergunta dos discípulos, mas também da
resposta de Jesus. Isto é ilustrado pelos argumentos avançados em
1866 pelo Reverendo Robert Govett, o defensor inglês mais
proeminente da ideia do arrebatamento secreto no último século:
Se nós dissermos, 'Qual é o
sinal da Tua vinda?' (Mat, xxiv. 3) então, ... estamos a
perguntar por um sinal do movimento futuro do Salvador desde os
mais altos céus. Se dissermos, 'Qual é o sinal da tua presença'
estamos a perguntar por uma prova da existência secreta de
Jesus no ar, depois da sua acção para com a terra ter
sido suspensa por algum tempo.
Os discípulos perguntam, 'Qual
será o sinal da tua Presença?' (versículo 3). Portanto, isto
assegura-nos que eles imaginavam que Jesus estaria secretamente
presente. Não precisamos de um sinal para aquilo que é exibido
abertamente.2
Estes argumentos apresentados em
1866 foram aproveitados por muitos outros expositores, entre eles
Charles Taze Russell. Em 1876, sob a influência do Adeventista
Nelson H. Barbour e seus associados, Russell tinha adoptado
"presença" como o único significado aceitável de parousía
para explicar como Cristo poderia ter vindo em 1874 (como tinha sido
predito por Barbour) sem ter sido notado por ninguém. A adopção
deste ponto de vista, portanto, ficou a dever-se a uma predição
falhada e foi usada como um meio de explicar o seu falhanço de
1874. Esta explicação foi mantida pelos
seguidores de Russell até ao princípio da década de 1930, quando
foi subitamente "descoberto" que a "presença invisível"
de Cristo tinha começado em 1914 em vez de 1874!
Contudo, tal ênfase em
"presença" como sendo o único significado bíblico
correcto de parousía parece ter muito pouco apoio entre
tradutores da Bíblia. De facto, todos excepto um número muito
pequeno de tradutores da Bíblia preferem as expressões
"vinda," "advento," "chegada," ou
termos similares, em vez de "presença." Um pesquisador e
coleccionador de Bíblias, que é Testemunha, William J. Chamberlin,
de Clawson, Michigan, E.U.A., verificou cuidadosamente como é que parousía
é traduzido em Mateus capítulo vinte e quatro, versículos 3, 27,
37 e 39, em centenas de Bíblias diferentes desde o Novo Testamento
de William Tyndale de 1534 até traduções publicadas tão
recentemente como 1980, e ele preparou listas extensivas do modo
como 137 traduções deste período apresentam aqueles versículos.
Um exame destas listas forneceu alguns resultados muito
interessantes.
"Parousía" nas traduções
da Bíblia
Antes da segunda metade do século
dezanove aparentemente poucos tradutores da Bíblia estavam
inclinados a traduzir parousía por "presença."
Dos tradutores ingleses do Novo Testamento desde Tyndale no século
dezasseis até Robert Young em 1862, Chamberlin encontrou apenas um
tradutor, Wakefield, que no seu Novo Testamento (1795) usou
"presença" como uma tradução de parousía em
Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 39. Mas mesmo Wakefield
preferiu traduzi-la como "vinda" nos versículos 3, 27 e
37 no mesmo capítulo. Mais ainda, Daniel Scott na sua tradução de
Mateus publicada em 1741 (New Version of St. Matthew's Gospel
[Nova Versão do Evangelho de S. Mateus]) apresenta "presença"
nas notas, enquanto retém "vinda" no texto principal.
O primeiro tradutor no século
dezanove a traduzir parousía como "presença" em
Mateus capítulo vinte e quatro foi provavelmente o Dr. Robert Young
na sua Literal Translation of the Holy Bible (Tradução
Literal da Bíblia Sagrada; 1862), sendo a razão, como o título
indica, ter ele tentado apresentar os significados estritamente
literais das palavras gregas em vez dos significados no idioma
moderno. Dois anos depois, Benjamin Wilson, um dos primeiros líderes
de um pequeno grupo religioso conhecido hoje como a Church of God
General Conference (Conferência Geral da Igreja de Deus), publicou
a sua The Emphatic Diaglott (A Diaglott Enfática; 1864), que
também traduz parousía como "presença" em todas
as 24 ocorrências no Novo Testamento.3
Então, em
1868-1872, Joseph B. Rotherham publicou o seu The Emphasized New
Testament (O Novo Testamento Enfatizado). Mas não foi senão na
terceira edição revista, publicada em 1897, que Rotherham mudou a
sua tradução da parousía de "vinda" para
"presença." Porquê? A razão que ele dá no Apêndice
da terceira edição indica que ele, pelo menos em parte, tinha abraçado
a ideia da "vinda em duas etapas". Ele explica que a parousía
de Cristo pode ser não só um evento, mas também "um período
-- mais ou menos extenso, durante o qual certas coisas devem
acontecer." Indubitavelmente, Rotherham foi influenciado no seu
modo de pensar sobre este assunto através da sua amizade próxima
com alguns escritores da revista The Rainbow (O Arco-Íris),
da qual o próprio Rotherham se tornou editor durante os últimos três
anos da sua vida.4
Outros tradutores do século
dezanove que usaram "presença" para parousía em
Mateus capítulo vinte e quatro foram W. B. Crickmer (The Greek
Testament Englished [O Novo Testamento em Inglês], 1881), J. W.
Hanson (The New Covenant [O Novo Pacto] , 1884) e Ferrar
Fenton, que começou a publicar as primeiras partes da sua tradução,
The Bible in Modern English (A Bíblia em Inglês Moderno),
em 1880.
No nosso século traduções que
vertem parousía como "presença" em Mateus capítulo
vinte e quatro são A Concordant Version (1926), de A. E.
Knoch, Bible Numerics (2.ª ed., 1935), de Ivan Panin, a New
World Translation of the Christian Greek Scriptures da Watch
Tower Society (1950), New Testament de James L. Tomanek
(1958), a Restoration of Original Holy Name Bible (1968), Today's
English New Testament (1972), de Donald Klingensmith e o New
Testament do Dr. Dymond (1972; apenas em forma manuscrita).5
Outras traduções apresentam às vezes "presença" como o
significado literal de parousía em notas de rodapé, mas
preferem "vinda," "chegada" (ou outras expressões
do mesmo tipo) no texto principal.
Portanto, com estas
comparativamente poucas excepções, tanto tradutores antigos como
modernos preferiram traduzir parousía por "vinda,"
"advento," "chegada," ou algum termo similar em
vez de "presença" em textos que tratam da segunda vinda
de Cristo. Eles fazem isto apesar do facto de todos eles concordarem
que "presença" é o significado primário da
palavra. Porquê? Será lógico acreditar que tantos peritos na língua
original do Novo Testamento de alguma forma não conseguiram
encontrar o verdadeiro sentido do termo grego?
Que dizer das versões mais
antigas do Novo Testamento, as versões Latina, Siría, Copta e
Gótica, que foram feitas enquanto o grego koiné original do
Novo Testamento ainda era uma língua viva? O que revelam estas
sobre a maneira como aqueles tradutores antigos compreenderam a
palavra parousía?
"Parousía" nas versões
mais antigas do Novo Testamento
É bem conhecido que a versão Vulgata
Latina foi feita pelo grande perito do quarto século Hieronymus,
hoje mais conhecido como S. Jerónimo. Ele realizou o seu trabalho
de tradução perto do fim do quarto século, começando com os
evangelhos em 383 A.D.. Curiosamente, em 20 das 24 ocorrências de parousía
no Novo Testamento, Jerónimo escolheu a palavra Latina para
"vinda," adventus, da qual deriva a palavra inglesa
"advent." As quatro excepções são 1 Coríntios 16:17; 2
Coríntios 10:10; Filipenses 2:12 e 2 Pedro 1:16. Nestas ocorrências
a Vulgata usa a palavra Latina para "presença," praesentia.
Vale a pena notar que apenas o último destes quatro textos se
refere à parousía de Cristo. Em todas as outras dezasseis
ocorrências onde parousía se refere à vinda de Cristo, Jerónimo
preferiu a palavra Latina adventus. Porquê? Evidentemente
ele sentiu que em textos que tratam da parousía de Jesus
Cristo a palavra significa "vinda" em vez de "presença."
Estava ele errado ao pensar assim?
Na verdade, a Vulgata Latina
não foi a versão Latina mais antiga da Bíblia. Foi precedida por
numerosas traduções Latinas, algumas das quais foram feitas no
segundo século. A Vulgata de Jerónimo era, de facto, não uma
tradução mas uma revisão destas versões Latinas anteriores
(embora comparadas com os textos originais hebraicos, aramaicos e
gregos), uma revisão feita para criar uma versão Latina com mais
autoridade do que a diversidade de versões Latinas antigas. Estas
versões mais antigas são designadas pelo nome comum de Old
Latin Bible (Bíblia Latina Antiga) ou (em Latim) Vetus
Latina. Tal como a Vulgata, estas versões também
traduzem normalmente parousía por adventus. As cinco
excepções (2 Coríntios 10:10; Filipenses 2:12; 2 Tessalonicenses
2:9; 2 Pedro 3:4, 12) incluem apenas duas passagem relativas à parousía
de Cristo. Portanto, tal como a Vulgata, as versões Latinas
Antigas preferem traduzir parousía pela palavra adventus,
fazendo-o em 15 dos 17 textos respeitantes à parousía
de Cristo.6
(Veja a tabela anexa na página 255.)
A palavra Latina adventus
significa literalmente "uma vinda para," embora pudesse às
vezes ser usada no sentido de "presença." No entanto, nas
versões Latinas acima mencionadas adventus é claramente
usada no sentido de "vinda," em contraste com praesentia,
a palavra Latina para "presença."
A versão síria Peshitta
foi feita no quinto século, mas tal como a Vulgata Latina
foi precedida por versões mais antigas, conforme mostrado, por
exemplo, pelos manuscritos siríos Curetonian e Sinaítico.7
Se, como é normalmente sustentado, a língua original de Jesus e
dos seus apóstolos foi o aramaico, estas versões sirías
podem de facto reflectir palavras usadas pelo próprio Jesus e pelos
apóstolos, incluíndo a palavra siría para parousía em
Mateus capítulo vinte e quatro, me' thithá!8
Tal como a palavra Latina adventus, me' thitá
significa literalmente "vinda," derivando de um verbo que
significa "vir."
A Versão Gótica foi
produzida por Wulfila a meio do quarto século, sendo por isso
ligeiramente anterior à tradução da Vulgata Latina. Esta versão
traduz parousía pelo substantivo gótico cums, uma
palavra parecida com o "come" inglês. Significa, muito
naturalmente, "vinda."9
Portanto, a conclusão notável é
que as versões mais antigas do Novo Testamento -- produzidas quando
o grego koiné ainda era uma língua viva e por tradutores
que, pelo menos alguns deles, conheciam aquela língua muito bem
desde a sua infância -- preferiram traduzir o subtantivo grego parousía
por palavras que significam "vinda" em vez de "presença"
em passagens que se referem à segunda vinda de Cristo. Eles fizeram
isto apesar do facto de parousía ter como significado primário
"presença" e ser traduzida desta maneira em outros sítios.
A questão é: Porque é que eles traduziram a palavra como
"vinda" quando se referia à parousía de Jesus
Cristo, mas como "presença" quando se referia à parousía,
por exemplo, do apóstolo Paulo (2 Coríntios 10:10; Filipenses
2:12)? Durante séculos isto permaneceu uma espécie de mistério,
até que -- no princípio do nosso século vinte -- novas
descobertas possibilitaram que peritos modernos do Novo Testamento
grego descobrissem a resposta a este enigma.
O uso técnico de parousía
Escavações durante o último século
nos sítios das antigas colónias do mundo Greco-Romano touxeram à
luz centenas de milhares de inscrições em pedra e metal e
textos em papiro, pergaminho e fragmentos de loiça.
Estes novos achados revolucionaram
o estudo da língua grega original do Novo Testamento. Foi
descoberto que o grego do Novo Testamento nem era um "grego bíblico"
especial como alguns acreditavam, nem o grego literário, arcaico,
usado por autores contemporâneos, mas era em grande parte
influenciado pelo grego vernáculo usado por pessoas normais em casa
e em qualquer lado, a língua comum da vida diária, a forma falada
do grego koiné.
As consequências desta descoberta
para a compreensão da língua grega original da Bíblia foram
primeiro exploradas em detalhe por Adolf Deissmann, mais tarde
Professor na Universidade de Heidelberg (e ainda mais tarde na
Universidade de Berlim), que começou a publicar as suas descobertas
em 1895. Outros peritos, que se aperceberam da importância da
descoberta, em breve começaram a analisar os textos recém
descobertos. Foi lançada nova luz sobre a maneira como eram usadas
e compreendidas muitas palavras gregas no tempo em que o Novo
Testamento foi escrito.
Uma das palavras, cujo significado
foi clarificado pelos novos textos, foi a palvra parousía.
As novas descobertas foram resumidas pelo Professor Deissmann em
1908 no seu trabalho agora clássico Licht vom Osten (Luz
do Oriente). A sua discussão da palavra parousía, que
abrange várias páginas, começa com a seguinte explanação:
Ainda outra das ideias centrais
da adoração Cristã mais antiga recebe luz dos novos textos, a
saber, parousia [parousía], 'advento, vinda,' uma palavra
que expressa as esperanças mais ardentes de um S. Paulo. Podemos
agora dizer que a melhor interpretação da esperança cristã
primitiva da Parousia é o antigo texto sobre o Advento, 'Eis, o
teu Rei chegou.' [Mateus 21:5] Desde o período ptolomaico
até ao 2.º séc. A. D. conseguimos traçar a
palavra a leste como uma expressão técnica para a chegada ou
a visita do rei ou do imperador.10
A seguir o Professor Deissmann dá
muitos exemplos deste uso do termo. Por ocasião de uma visita
oficial, real, deste tipo, como por exemplo quando o imperador
romano fez uma parousía às províncias a Leste, "as
estradas foram reparadas, multidões reuniram-se para prestar
homenagem, houve procissões destes indivíduos vestidos de branco,
toques de trombeta, aclamações, discursos, petições, ofertas e
festividades."11
Com frequência era reconhecida uma nova era a partir da parousía
do rei ou imperador, e eram cunhadas moedas para comemorá-la.
Aquando da visita ou parousía do Imperador Nero, por
exemplo, em cujo reinado Paulo escreveu as suas cartas para Corinto,
as cidades de Corinto e Patras cunharam "moedas-advento."
Estas moedas trazem a inscrição Adventus Aug(usti) Cor(inthi),
demonstrando que o adventus Latino era usado como um
equivalente do termo grego parousía naquelas ocasiões.12
Desde esse tempo, pesquisa
adicional feita por numerosos peritos, como os Professores George
Milligan, James Hope Moulton e outros, tem confirmado ainda mais as
conclusões de Deissmann, que foi quem primeiro demonstrou este uso
técnico de parousía.13
Este uso do termo explicou claramente por que razão as versões
mais antigas do Novo Testamento o traduzem por palavras que
significam "vinda" em textos que estão relacionados com a
parousía de Jesus Cristo. Hoje todos os léxicos e dicionários
de grego indicam este significado da palavra além do seu
significado primário ("presença"), e existe um consenso
geral entre os peritos modernos que parousía no Novo
Testamento, quando usado para se referir à segunda vinda de Cristo,
é usado no seu significado técnico de visita real.14
Será a sua vinda "uma visita
de um rei"? Certamente que sim. A Bíblia
apresenta repetidamente a parousía de Cristo como uma vinda
"com poder e grande glória," quando ele se sentar
"sobre o seu trono glorioso" e for acompanhado por
"todos os seus anjos." (Mateus 24:30; 25:31) Uma poderosa
"voz" de um arcanjo, "um grande som de
trombeta," e outros sinais notáveis contribuem adicionalmente
para a descrição da parousía de Cristo como uma visita
oficial, real, notada por todos e fazendo com que "todas as
tribos da terra batam em si mesmas em lamento" ao vê-lo. A sua
vinda não é de maneira nenhuma apresentada como uma presença
invisível, secreta, que passa despercebida à grande maioria da
humanidade -- Mateus 24:27, 29-31; 1 Tessalonicenses 4:15, 16;
Revelação 1:7.
Reivindicado o apoio de peritos
Em apoio da sua insistência em
"presença" como o único significado aceitável de parousía
na Bíblia a Watch Tower Society cita às vezes algumas traduções
da Bíblia e ocasionalmente um perito em grego. Contudo, é
significativo que a maioria destas referências sejam obsoletas,
datando de uma época em que o uso técnico do termo ainda era
desconhecido.
Assim, a discussão mais recente da
palavra parousía, publicada na Tradução do Novo Mundo
das Escrituras Sagradas com Referências, edição revista de
1984, páginas 1576 e 1577 (Apêndice 5b), começa por citar quatro
traduções da Bíblia que apresentam parousía como
"presença" em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo
3, três das quais (The Emphatic Diaglott, de Wilson, The
Emphasized Bible, de Rotherham, e The Holy Bible in Modern
English, de Fenton) foram produzidas antes da descoberta de
Deissmann e dos seus colegas. A quarta é a própria Tradução
do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs da Sociedade, de
1950! O artigo que se segue é completamente dominado por uma citação
do trabalho The Parousia escrito pelo Dr. Israel P. Warren,
que argumenta em defesa de "presença" como sendo o
significado bíblico correcto de parousía. Infelizmente, o
trabalho do Dr. Warren data de 1879!15
O artigo, contudo, também se
refere a três léxicos de grego moderno. Indica-se que A
Greek-English Lexicon de Liddell e Scott e TDNT (Theological
Dictionary of the New Testament) de Kittel/Friedrich apresentam
ambos "presença" como o significado de parousía.
Mas porque é que não se diz aos leitores que estes mesmos dois léxicos
explicam a seguir que parousía também era usada no sentido
técnico de "a visita de um rei"? Porque é que não é
dito aos leitores que estes mesmos léxicos enfatizam que esta é a
maneira como a palavra é usada no Novo Testamento quando se refere
à parousía de Jesus Cristo? O último
destes dois léxicos, TDNT, de fato só gasta algumas frases
sobre o significado primário, "presença". O resto do
artigo, abrangendo 14 páginas ao todo, é uma discussão do uso técnico
do termo, demonstrando que é assim que a palavra é usada nos
textos do Novo Testamento que tratam da parousía de Jesus Cristo!
O leitor da publicação da Torre de Vigia nunca saberia isto e é
improvável que tivesse meios para o descobrir. Uma argumentação
que precisa de empregar tal uso obviamente tendencioso da evidência
pouco tem que a recomende.
Finalmente, o léxico de Bauer é
citado como dizendo que parousía "tornou-se o termo
oficial para uma visita de uma pessoa de elevada posição,
esp(ecialmente) de reis e imperadores que visitam uma província."
Curiosamente, esta declaração é citada como se desse apoio
adicional à afirmação de que a Bíblia usa parousía
apenas no sentido de "presença", apesar do facto de o léxico
de Bauer dar aqui o uso técnico do termo, a visita oficial
de um rei ou imperador (ou uma pessoa de elevada posição).
Existe um dicionário moderno de
Grego-Inglês, contudo, que parece dar algum apoio ao entendimento
da Watch Tower Society acerca da parousía de Cristo como um
período de "presença invisível," seguido por uma
"revelação" final da sua presença na batalha do
Armagedom. É o Expository Dictionary of New Testament Words
(Dicionário Expositivo de Palavras do Novo Testamento), de W. E.
Vine, que define o termo parousía da seguinte maneira:
PAROUSIA ... denota tanto uma
chegada como a subsequente presença com.... Quando usada para se
referir ao retorno de Cristo, significa não meramente a sua vinda
momentânea para os Seus santos, mas a Sua presença com eles
desde esse momento até à Sua revelação e manifestação ao
mundo.
Esta descrição da parousía
soa muito parecida à da Watch Tower Society. Portanto, não é
surpresa nenhuma descobrir que a definição que Vine apresenta da
palavra é amplamente citada na página 1335 do dicionário bíblico
da Sociedade Aid to Bible Understanding (Ajuda ao
Entendimento da Bíblia). Pode ser uma surpresa para alguns, porém,
saber que Vine foi um dos mais assíduos defensores da doutrina do
"arrebatamento secrteto" no nosso século. Isto
aparentemente fez com que ele definisse a palavra parousía
de uma maneira que apoiasse os seus pontos de vista teológicos.
Contudo, isto só serviu para o pôr em conflito com os resultados
da moderna erudição.
Conforme observado anteriormente, a
ideia do "arrebatamento secreto" teve os seus defensores
mais zelosos entre os seguidores de John Nelson Darby, chamados a Irmandade.
Em 1847 um desentendimento entre Darby e George Müller, o líder de
um grupo da Irmandade em Bristol, Inglaterra, dividiu o movimento em
dois: a Irmandade Exclusiva, liderada por Darby, e a Irmandade
Aberta, que alinhou com Müller. Embora o próprio
Müller rejeitasse o conceito do "arrebatamento secreto,"
o movimento da Irmandade Aberta aderiu à ideia e continuou a
pregá-la. W. E. Vine, que nasceu em 1873, estava associado com a
Irmandade Aberta e parece tê-lo estado desde a sua juventude. Ele
foi um grande perito, e o seu Dicionário é inestimável
como manual para o estudo do Novo Testamento. A sua definição da
palavra parousía, contudo, foi claramente influenciada pela
sua aderência à doutrina do "arrebatamento secreto," uma
doutrina que lhe deve ter sido muito cara desde a sua juventude. Ele
defendeu-a em vários livros escritos em colaboração com um
condiscípulo, o Sr. C. F. Hogg, como por exemplo The Epistles of
Paul and the Apostle to the Thessalonians (As Epístolas de
Paulo e o Apóstolo aos Tessalonicenses; 1914), Touching the
Coming of the Lord (Atingindo a Vinda do Senhor; 1919), e The
Church and the Tribulation (A Igreja e a Tribulação; 1938). O
último livro mencionado foi publicado como uma resposta ao ataque
do Rev. Alexander Reese contra a ideia do "arrebatamento
secreto," no livro The Approaching Advent of Christ (O
Advento de Cristo que se Aproxima), publicado no ano anterior
(1937). O bem conhecido exegeta e comentador bíblico, Professor F.
F. Bruce, embora tendo os mesmos antecedentes religiosos do Dr.
Vine, faz os seguintes comentários críticos a respeito do uso que
Vine e Hogg fazem da palavra parousía no seu sistema escatológico:
Talvez o aspecto mais distintivo
de Atingindo a Vinda tenha sido o tratamento dado à
palavra parousía. Eles insistiram no sentido primário de
'presença' e interpretaram a palavra no seu uso escatológico
como significando a presença de Cristo com a Sua Igreja
glorificada no intervalo que precede a Sua manifestação em glória....
Pode ser posta em dúvida se esta
interpretação de parousía faz justiça ao sentido que a
palavra tem no grego helenístico. Os escritores apelaram, de
facto, ao léxico de Cremer em apoio do seu ponto de vista; mas
Cremer escreveu muito antes de o estudo de papiros vernaculares
ter revolucionado o nosso conhecimento da linguagem helenística
comum.16
Portanto, a referência da Watch
Tower Society à definição de parousía do Dr. Vine não
tem grande peso. Examinada mais de perto, mostra ser essencialmente
tão obsoleta como as outras referências da Sociedade.
O que mostra o contexto bíblico?
Quando uma palavra tem mais do que
um significado, o contexto deve ser sempre considerado ao determinar
como deve ser compreendida. O contexto de Mateus capítulo vinte e
quatro, versículo 3, indica que Mateus usou parousía
no seu sentido técnico ou no seu sentido primário? A Watch Tower
Society afirma que este último sentido, "presença," é
indicado pelo contexto. A The Watchtower de 1.º de Julho de
1949 disse, na página 197:
O facto de a chegada ou visita de
um rei ou imperador ser um dos significados técnicos de parousía
não nega nem refuta que nas Escrituras Sagradas tenha o
significado presença a respeito de Jesus Cristo. Para
mostrar o significado da palavra o contexto nas Escrituras é mais
poderoso do que qualquer uso exterior da palavra em papiros num
sentido técnico.
De acrodo, o contexto nas
Escrituras é mais poderoso nessa circunstância. A questão é, Será
que o contexto de Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3,
realmente mostra que os discípulos perguntaram por um sinal que
indicaria que Cristo estava presente, e não por um sinal que
indicaria que ele estava a chegar? Existe alguma razão para
acreditar que eles na verdade pensavam na vinda de Cristo como uma
"presença invisível" que só podia ser reconhecida através
de um sinal visível?
Quando esta questão foi posta à
Watch Tower Society, eles tiveram de admitir que os discípulos
"não faziam ideia que ele [Cristo] reinaria como um espírito
glorioso desde os céus e portanto não sabiam que a sua presença
seria invisível."17
Se os discípulos não faziam ideia
que Cristo no futuro viria para estar invisivelmente presente, como
é que eles podiam ter perguntado por um sinal de uma tal presença
invisível? Isto, por si só, mostra que Mateus não podia ter usado
parousía no sentido de "presença." Evidentemente,
eles pediram a Jesus que lhes desse um sinal que anunciaria que a
prometida vinda ou chegada de Cristo estaria iminente. Eles queriam
um sinal, não para tomarem conhecimento de algo, que já estaria a
ocorrer, mas um sinal que desse aviso antecipado que o evento
desejado estava prestes a ocorrer, estava de facto iminente. A sua
linguagem, as palavras que usaram para expressar a sua pergunta,
estariam em harmonia com esse desejo.
Que este é o entendimento correcto
é claramente confirmado pela maneira como Marcos registou a
pergunta deles. Na versão de Marcos, a pergunta por um
"sinal" refere-se apenas à destruição do templo.
Certamente é impossível pensar que eles precisavam de algum
"sinal" para os convencer que o templo tinha sido destruído
ou que a sua destruição estava a ocorrer. Eles queriam alguma
indicação antecipada dessa ocorrência!18
A maneira como
Jesus respondeu à pergunta deles confirma completamente isto.
Depois de mencionar acontecimentos futuros que também incluíam a
destruição de Jerusalém, Jesus, nos versículos 29 e 30,
descreveu o sinal que acompanharia a sua futura vinda "nas
nuvens" e acrescentou:
Aprendei, pois, da figueira o
seguinte ponto, como ilustração: Assim que os seus ramos novos
se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que o verão está próximo.
Do mesmo modo, também, quando virdes todas estas coisas, sabei
que ele está próximo às portas, -- Mateus 24:32, 33, NW.
Deve-se notar que Jesus não disse
que quando eles vissem os ramos novos da figueira ficarem tenros e
brotarem folhas, saberiam que "o verão está presente."
Estes sinais precederiam o verão e provariam que ele está próximo.
Similarmente, o sinal da vinda do Filho do homem provaria que
"ele está próximo às portas", não
invisivelmente presente. A comparação é entre o verão estar
próximo, e Cristo estar próximo. Claramente, Jesus
disse aos seus discípulos para estarem atentos a um sinal que iria preceder
a sua chegada ou "visita real," e não um sinal que se
seguiria à sua chegada e que mostrasse que ele estava
invisivelmente presente. Portanto, a partir do contexto de
Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, é muito claro que os
discípulos perguntaram pelo sinal da vinda iminente de
Cristo, não por um sinal da sua presença. O contexto,
portanto, apoia fortemente a conclusão de que Mateus usou a palavra
parousía no seu sentido técnico, para significar a chegada
ou visita de um rei ou alto dignitário.19
Também é notável que dos quatro
escritores dos evangelhos, Mateus é o único que usa a palavra parousía,
e isto só no capítulo vinte e quatro. Os quatro versículos que
contêm o termo (3, 27, 37 e 39) têm paralelos em Lucas, mas em vez
de parousía Lucas normalmente usa "dia" ou
"dias". Quando Jesus compara a sua vinda com o relâmpago,
que ilumina repentinamente com um clarão todo o céu visível de
este para oeste ele acrescenta, segundo Mateus capítulo vinte e
quatro, versículo 27, "Assim será a vinda (parousía)
do Filho do homem," Lucas em vez disso, no capítulo
dezassete, versículo 24, tem, "assim será o Filho do homem no
seu dia." Assim, a parousía de Cristo e o dia (heméra)
são usados de modo equivalente para se referir ao tempo do
aparecimento ou revelação de Cristo. Isto é evidenciado ainda
mais claramente na comparação que Cristo fez entre a sua vinda e a
vinda do dilúvio nos dias e Noé, quando os homens "não
fizeram caso, até que veio o dilúvio; assim será a vinda [parousía]
do Filho do homem." (Mateus 24:37, 39) A versão de Lucas também
acrescenta a destruição de Sodoma nos dias de Ló e diz: "do
mesmo modo será naquele dia em que o Filho do homem há de ser
revelado." -- Lucas 17:26-30.
É óbvio que Jesus não está aqui
a comparar a parousía com os períodos que precederam
o dilúvio e a destruição de Sodoma. É desta maneira que a Watch
Tower Society o explica, referindo-se à expressão "os dias
do Filho do homem" em Lucas capítulo desassete, versículo 26.
Pelo contrário, Jesus compara claramente a sua futura vinda como a
vinda inesperada do dilúvio, e com a destruição súbita de
Sodoma. Tal como aqueles dois acontecimentos, a sua parousía
será um acontecimento revolucionário, uma intervenção divina que
mudará imediatamente a situação para toda a humanidade de uma
maneira muito perceptível. A comparação entre Mateus capítulo
vinte e quatro, versículo 39, e Lucas capítulo dezassete, versículo
30, mostra que a parousía denota "o dia em que o Filho
do homem será revelado." O facto de se associarem "os
dias de Noé" com "os dias do Filho do homem" em
Lucas capítulo dezassete, versículo 26, portanto, significa apenas
que tal como os homens nos dias de Noé foram subitamente apanhados
desprevenidos nas suas ocupações diárias, assim será também nos
dias em que o Filho do homem for revelado. A sua intervenção
repentina virá sem que nada tenha alertado as pessoas
antecipadamente, pondo-as a par da verdadeira situação.
À primeira vista poderia parecer
que a pergunta, "Qual será o sinal da tua vinda (parousía),"
em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, não tem um
paralelo claro no evangelho de Lucas. A perguntaa dos discípulos,
tal como é apresentada em Lucas capítulo vinte e um, versículo 7,
parece estar relacionada apenas com a destruição do templo:
"Qual será o sinal quando estas coisas [a destruição do
templo, versículos 5 e 6] estão destinadas a ocorrer?"
Contudo, um dos testemunhos manuscritos mais importantes do texto
mais antigo dos evangelhos, o Codex D (Bezae
Cantabrigensis), apresenta a pergunta de maneira diferente,
tornando-a muito semelhante à de Mateus 24:3, com uma excepção
importante:20
Mateus 24:3: "Qual
será o sinal da tua vinda [parousía] ?"
Lucas 21:7: "Qual será o sinal da tua vinda [eleuseos]
?"
Como se pode ver, a única diferença
é que segundo este manuscrito Lucas não usa parousía mas éleusis,
a palavra grega comum para "vinda". O Dr. Schoonheim,
depois de examinar cuidadosamente estas semelhanças, até conclui
que, "Lucas 21:7, segundo D, apresenta uma tradição mais
original," pois é uma tradução do sírio ou até do aramaico
me' thitha' ("vinda").21
Portanto, o contexto bíblico não
apoia a afirmação de que parousía tem de ser traduzida
como "presença" em Mateus capítulo vinte e quatro. O
facto de os discípulos não imaginarem a vinda de Cristo como uma
"presença invisível," o modo como Jesus respondeu à
pergunta deles, bem como os textos paralelos no evangelho de Lucas,
todos mostram que essa tradução é insustentável. Em Lucas,
fala-se da parousía de Cristo como o "dia" de
Cristo, ou até como " o dia em que o Filho do homem há de ser
revelado." E, como é mostrado pelo Codex D, a palavra parousía
também pode ser trocada pelo nome grego comum para
"vinda," éleusis. Paralelos similares podem ser
encontrados em outros textos que tratam da parousía de
Cristo, nos quais são usados termos relativos à manifestação ou
revelação de Jesus. Assim, o apóstolo João, em 1 João 2:28,
exorta os cristãos a "permanece[r] em união com ele, para
que, quando ele for manifestado [em grego, phaneróo],
tenhamos franqueza no falar, e não sejamos envergonhados para nos
afastar dele na sua vinda [parousía]."Aqui João
compara claramente a parousía de Cristo com o dia da sua
aparição ou manifestação. Similarmente, o apótolo Paulo ora
para que os cristãos em Tessalónica possam ter os seus corações
estabelecidos "inculpáveis na santidade perante o nosso Deus e
Pai, na vinda [parousía] de nosso Senhor Jesus com
todos os seus santos sagrados." (1 Tessalonicenses 3:13)
Esta vinda do Senhor com todos os seus santos sagrados ou anjos também
é referida em Judas versículo 14 e em Mateus capítulo dezasseis,
versículos 27 e 28, mas em vez de parousía tanto Judas como
Mateus usam formas de érchomai, o verbo mais comum para
"vinda", e relacionado com o nome éleusis.
Os três textos referem-se todos à mesma ocasião, a vinda do
Senhor com todos os seus santos para executar julgamento, e traduzir
parousía por "presença" em 1 Tessalonicenses capítulo
três, versículo 13, como faz a Watch Tower Society, é ignorar
esta interrelação com outras passagens paralelas.
Naquelas parábolas em que Jesus
enfatizou a necessidade de os seus servos se manterem alertas e
vigilantes, observemos que ele apresenta o seu julgamento como
aquele que se segue à chegada do amo a casa. É a vinda ou chegada
do amo que ele descreve, e não uma "presença invisível."
Não é como se o amo deslizasse para a área e começasse
invisivelmente a julgar o que os seus servos estavam a fazer, e só
mais tarde se revelasse a eles. Pelo contrário, o regresso do amo,
embora talvez seja inesperado, torna-se rapidamente evidente para
todos os seus servos, os fiéis e os infiéis, e manifesto desde o
princípio, e o seu julgamento não é feito a partir de algum lugar
invisível escondido, é antes feito de uma maneira muito aberta. --
Compare com Mateus 24:45-51; 25:14-30; Marcos 13:32-37; Lucas
12:35-48; 19:12-27.
Portanto, a evidência das traduções
mais antigas, bem como das traduções modernas e dos léxicos da língua
grega, e especialmente do contexto e de passagens relacionadas,
atestam todos que o uso de parousía em Mateus capítulo
vinte e quatro, versículo 3, não se pode referir a uma
"presença invisível" de uma "vinda em duas
etapas," mas refere-se à futura chegada e aparecimento de
Cristo como Rei para Julgamento, "com poder e grande glória"
e acompanhado pelos seus santos anjos.
Notas
1
Para uma investigação detalhada sobre a origem e desenvolvimento
da ideia da "presença invisível" e como veio a ser
adoptada por Russell e seus seguidores, veja C. O. Jonsson,
"The Theory of Christ's Parousía As An 'Invisible
Presence'" ("A Teoria da Parousía de Cristo Como
Uma 'Presença Invisível'"), The Bible Examiner (O
Investigador da Bíblia), Vol. 2, N.º 9, 1982, e Vol. 3, N.º 1,
1983, Box 81, Lethbridge, Alberta, Canada T1J -- 3Y3.
2
O Jornal milenarista Britânico The Rainbow (O Arco-Íris),
Junho de 1866, p. 265 e Julho de 1866, p. 302. O The Rainbow,
mais do que qualquer outro jornal milenarista na Inglaterra, cedeu
espaço aos expositores da ideia do arrebatamento secreto, e Govett
teve muitos artigos seus publicados nesse jornal. O principal
trabalho de Govett sobre o assunto foi The Saint's Rapture to the
Presence of the Lord Jesus (O Arrebatamento dos Santos para a Presença
do Senhor Jesus), de 357 páginas, publicado em 1852. Toda a discussão
ao longo do livro se baséia na mudança que Govett faz da palavra
"vinda" para "presença"!
3
Veja o livro Historical Waymarks of the Church of God (Marcos
Históricos da Igreja de Deus), publicado pela sede do movimento em
Oregon, Illinois 61061, em 1976. O grupo defende pontos de vista
similares aos dos Christadelphians (Cristadelfianos) e das
Testemunhas de Jeová em doutrinas tais como a trindade, a alma e o
inferno de fogo.
4
Veja a anterior nota de rodapé 2. Rotherham foi editor do The
Rainbow (O Arco-Íris) de 1885 até 1887. Veja também Reminiscences
(Reminiscências) de Rotherham compilado pelo seu filho J. George
Rotherham (Londres, pouco depois de 1906), pp. 76-79.
5
Que pelo menos alguns destes tradutores foram influenciados pela sua
aderência à doutrina da "presença invisível" é
ilustrado pela tradução que Dymond faz de Mateus 24:3: "Mas
entretanto diz-nos que outros acontecimentos indicarão que tu
voltaste à terra para estar invisivelmente presente."
6
Veja D. Petri Sabatier, Bibliorum Sacrorum Latinae Versiones
Antiquae (Antigas Versões Latinas dos Escritos Sagrados),
originalmente publicado em 1743. O facsimile impresso em Munique em
1974 foi consultado para esta discussão.
7
Veja as extensas discussões por Bruce M. Metzger em The Early
Versions of the New Testement (As Versões Antigas do Novo
Testamento), Oxford 1977, pp. 3-82, e por Matthew Black em Die
alten Übersetzungen des Neuen Testaments, K. Aland, editor,
Berlim, Nova Iorque, 1972, pp. 120-159.
8
Pieter Leendert Schooheim, Een Semasiologisch onderzoek van
Parousia met betrekking tot het gebruik in Mattheus 24
("Uma pesquisa Semântica sobre a Parousia com especial referência
ao seu uso em Mateus 24"), Aalten, Holanda, 1953, pp. 20-22,
259. Acredita-se geralmente que o manuscrito Curetoniano é uma
revisão do anterior texto sírio Sinaítico, que por sua vez foi
originalmente escrito em Antioquia no norte da Síria. Por esta razão,
o sírio destes manuscritos, sendo um dialecto do aramaico, é
provavelmente muito próximo do dialecto aramaico palestiniano usado
por Jesus e pelos seus apóstolos.
9
As antigas versões Copta, Etíope e Arménia não foram
investigadas.
10
Citado da tradução Inglesa por L. R. M. Strachan da 4.ª edição,
Light from the Anciente East (Luz do Oriente Antigo),
reimprimido por Baker Book House, Grand Rapids, Michigan, 1978, p.
368.
11
B. M. Nolan, "Some Observations on the parousía"
("Algumas Observações sobre a parousía"), The
Irish Theological Quarterly (O Periódico Teológico Irlandês
Trimestral), Vol. XXXVI, Maio 1969, p. 288.
12
Deissmann, p. 371. Significativamente, a palavra grega epipháneia,
"aparecer," normalmente aplicada à segunda etapa da vinda
de Cristo pelos adeptos da noção do arrebatamento secreto, foi
também usada em tempos em "moedas-do-advento" gregas como
um equivalente do Latim adventus! (Deissmann, p. 373.)
13
O estudo linguístico mais completo do termo parousía é
aquele de Pieter Leendert Shoohein, Een semasiologisch onderzoek
van Parousia (Uma pesquisa semântica sobre a Parousia), Aalten,
Holanda, 1953. Este trabalho tem cerca de 300 páginas, incluíndo
um resumo de 33 páginas em inglês.
14
Veja por exemplo Kittel/Friedrich, Theological Dictionary of the
New Testament, Vol. V, pp. 858-871, e o longo artigo no Dictionnaire
de la Bible, Supplément (Dicionário da Bíblia, Suplemento),
Francês, ed. por L. Pirot, A. Robert e H. Cezalles, Paris-VI, 1960,
pp. 1332-1420. Outro estudo interessante é aquele por J. T. Nélis
em Bibel-Lexikon (Léxico Bíblico), Tubingen 1968, pp.
1304-1312.
15
Israel P. Warren, D. D., The Parousia (A Parousia), Portland,
Maine, 1879, pp. 12-15.
16
F. F. Bruce citado no livro de Percy O. Ruoff, intitulado W. E.
Vine, His Life and Ministry, Londres 1951, pp. 75, 76.
17
The Watchtower, 15 de Setembro de 1964, p. 576. A mesma
conclusão é tirada na The Watchtower de 15 de Janeiro de
1974, na página 50: "Quando eles perguntaram a Jesus, 'Qual
será o sinal da tua presença?' eles não sabiam que a sua presença
futura seria invisível."
18
Isto refuta o argumento por vezes usado pela Watch Tower Society de
que 'não haveria necessidade de um sinal se a parousia fosse visível
e tangível.' Veja a Awake! de 8 de Dezembro de 1967, p. 27.
19
No livro God's Kingdom of a Thousand Years Has Approached
(Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos; 1973) a Watch Tower
Society na página 169 faz uma tentativa de adaptar o uso técnico
de parousía à sua doutrina da "presença invisível"
ao dizer que, "Uma 'visita' inclui mais do que uma 'chegada'.
Inclui também uma 'presença.'" Certamente que isto é
verdade. Mas eles tentam obscurecer a diferença óbvia entre os
dois usos de parousía. Numa visita real a chegada do
rei ou imperador era a fase mais espectacular da visita, algo que
chamara a atenção de todos. Se os discípulos, como mostra a evidência,
perguntaram pelo sinal da visita oficial, real, visível de
Cristo, eles deviam ter em mente algo que precederia tal
visita. Não teria sentido nenhum perguntar por um sinal que
mostraria que o rei já tinha chegado.
20
Embora o manuscrito seja apenas do 5.º ou 6.º século A.D., as
suas variantes textuais têm muitas vezes apoio nos Pais da Igreja
do segundo século e nas versões Velha Latina e Síria. Alguns
peritos até a encaram como um representante mais fiel do texto
original do que o [ manuscrito] Vaticano ou Sinaítico. Conforme
demonstrado por A. J. Wensinck, está colorido por construções e
idiomas aramaicos mais frequentemente do que o [ manuscrito]
Vaticano ou Sinaítico e, segundo o Dr. Matthew Black, ele
representa, por essa razão, "o fundo aramaico da tradição
Sinóptica mais fielmente do que manuscritos não-Ocidentais."
-- Matthew Black, An Aramaic Approach to the Gospels and Acts
(Uma Aproximação Aramaica aos Evangelhos e aos Atos), 2.ª ed.,
1954, pp. 26-34, 212, 213.
21
Schoonheim, pp. 16-28, 259, 260. isto refutaria a afirmação na Tradução
do Novo Mundo -- Com Referências de 1986, revista, página 1517
de que "As palavras parousía e éleusis não são
usadas intercambiavelmente."